Quando ele está com a bola, a torcida se levanta. Habilidoso, ele normalmente passa pelos adversários, seja na rapidez, seja na habilidade. Muitas vezes é capaz daquelas jogadas que fazem o torcedor se empolgar e preparar o grito na garganta, driblando vários adversários até ficar cara a cara com o goleiro.
Aí que vem o problema. Ele olha para os lados, procurando dar um passe que o exima daquela responsabilidade tão pesada para ele. Procura alguém que o exima da obrigação tão temida: finalizar. Por quê? Porque finalizar é o seu drama. Chutar mal é o seu carma. Ele é mais uma entidade mística do futebol brasileiro: o atacante que finaliza mal.
Um exemplo disso é Jean, maldosamente apelidado de JEAN PÉ DE PANO. Revelado pelo Flamengo, ele brilhou na final do Campeonato Carioca de 2004, quando marcou incríveis três gols. A sua carreira mostraria que essa seria a exceção, não a regra. Passou por Cruzeiro, Saturn, da Rússia, Vasco, Corinthians, Fluminense, Santos e passou por diversos times pequenos. Atualmente, o jogador defende o América.
Sua finalização era tão ruim que ele era acusado de ser o atacante que “não gosta de fazer gols”. Uma fama que aumentou quando ele tentou justificar a falta de gols dizendo que preferia passar a bola a fazer o gol.
“Não sou um atacante de área. Caio pelas laterais. Sou rápido e habilidoso. Meu forte é a movimentação. Gosto de fazer as jogadas e servir os companheiros na cara do gol”, disse Jean quando foi apresentado ao Santos, em 2009.
“Meu forte é a movimentação” é um mantra do jogador que finaliza mal. Em geral, é um segundo atacante, que tem habilidade e/ou velocidade. Consegue se destacar por outros atributos, mas chega ao profissional sem saber finalizar.
Mesmo sendo atacante. Quando as críticas chegam, seus defensores argumentam pela sua permanência no time baseando-se em outros atributos. A frase muitas vezes começa com um “ele não faz gol, mas…” e se completa com algum de seus atributos.
A desculpa pode ser clássica (“mas ele é habilidoso”; “mas ele é rápido”), motivacional (“ele é tem muita raça”) ou até em sua versão futebol moderno (“ele marca a saída de bola”; “ele acompanha o lateral adversário”). No fim, tudo para justificar por que diabos manter no time um atacante que finaliza TÃO mal.
Alguns atacantes conseguem passar a carreira inteira perambulando por times grandes, jogando até no exterior, mas parece que nunca conseguem aprender a finalizar. De quando sobe para o time profissional até os seus últimos anos como jogador, este místico personagem torce para que a bola nunca sobre para ele finalizar. Tenta sempre um drible a mais na esperança de um companheiro aparecer mais bem colocado para ele passar a bola e respirar aliviado. Porque se sobrar para chutar para o gol, ele sabe: vai mandar a bola na lua e a torcida irá xingar até a sua 15ª geração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário