O FLAMENGO ALÉM DA PAIXÃO E DA TELEVISÃO
O futebol é paixão que nada tem a ver com a razão. Mas este esporte tão querido pelos brasileiros, além da paixão presente, tem um passado, uma história. Uma vez ouvi do Bernardinho, ao comentar a posição do vôlei no coração dos brasileiros, a seguinte frase: "o vôlei é o esporte número um no Brasil, porque o futebol é religião". E em se tratando de religião, vamos considerar no futebol o clero, o baixo clero e, é claro, a plebe, representada na mídia pelo Flamengo.
O rubro-negro carioca, time de maior torcida no país, é considerado de forma preconceituosa o time dos pobres. Um estudo feito pela jornalista Claúdia Mattos mostrava que, até o final dos anos 90, o Flamengo contava com a simpatia de quase a metade da elite carioca e brasileira. Em tempos de populismo e massa, seria um exagero considerar o time como o representante das classes mais baixas. No mesmo estudo, percebeu-se que quanto maior a classe social, maior também era o seu percentual na geral da torcida do mengão. Assim: A e B com 44,3%; e D e E com 40% de torcedores. O Flamengo, que detém mais de 40% da torcida carioca, é na verdade um time de massa.
Não se pode esquecer que a origem do Flamengo é a elite como um todo, podendo ser considerado um primo-irmão do Fluminense. De fato, nasceu em 1895 como um clube de regatas, antes, portanto, do tricolor. Só foi se incorporar ao futebol em 1911, quando nove jogadores do primeiro time de futebol do Fluminense se desentenderam com a diretoria e procuraram abrigo na república da Praia do Flamengo, 22, antiga sede do clube de regatas rubro-negro.
O remo foi durante muito tempo o esporte da elite. Quando os nove jogadores do fluminense procuraram abrigo no Flamengo, tiveram que travar uma verdadeira guerra para serem incorporados ao time e usar em seu uniforme o rubro e o negro. Quando finalmente conseguiram adotar as adotar as cores, suas camisas foram obrigatoriamente diferenciadas - em vez das listras horizontais do remo, o estilo quadriculado, apelidado de papagaio vintém.
A proximidade do Flamengo com a pobreza turbulenta veio com as festas e o espírito rebelde dos primeiros flamenguistas. Quando o time ganhava, por exemplo, os reco-recos, cavaquinhos e instrumentos de percussão ganhavam as ruas da cidade, que abria suas janelas para ver o carnaval passar. Eles eram alardeados por todos que riam de suas travessuras, e assim ganharam o título de subversivos, por trocar as orquestras das Laranjeiras pelo calor humano das ruas.
O período no qual o rubro-negro conseguiu sua maior aquisição patrimonial, a doação do terreno na gávea, foi justamente na era Vargas. Getúlio, o "pai dos pobres", aprendeu a se comunicar com a pobreza turbulenta, que durante toda a história vem se identificando com o Flamengo - não é ela a maior no Brasil, mas, sim, a mais rebelde e significativa em termos políticos.
Assim como os artistas, celebridades e socialites hoje vestem a camisa da diretoria da Mangueira no Sambódromo sem nunca ter subido o morro, o mais querido do Brasil também é objeto de manobras sociais. Aliás, de certa forma, se é Flamengo do mesmo jeito que se é Mangueira. Pode-se ser flamenguista sem jamais ter feito parte da pobreza turbulenta, de inclinação arruaceira, com o comportamento ameaçador da ordem.
Uma paixão não se explica. O que pode muito bem ser justificado é a Nike ser a fornecedora do material esportivo do Flamengo e a Madona ter se requebrado com o manto em seu show no Maracanã. Contudo, não é através do senso-comum que se deve desconsiderar a representatividade do time e sua alma rebelde. Ainda vale lembrar que a sua torcida protestou no Fla-Flu que decidia a Taça Guanabara de 1984, às vésperas de uma eleição indireta, com faixas que diziam: "Maluf é Corrupção. Tancredo é solução". Se a segunda afirmativa é verdadeira, nunca saberemos. Mas a primeira...
Um comentário:
ai , na moral.. será q sou só eu q quero diego d volta?!?!?
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