Quanto pior, melhor?
por Luiz Hélio Alves de Oliveira*
Quinta-feira à noite e um público de apenas dez mil espectadores para um clássico esvaziado de grandes emoções. Quando Nelson Rodrigues – o tricolor mais rubro-negro da crônica nacional - afirmou que "num Fla-Flu vence quem estiver pior", por este ser o "jogo do improvável", o genial dramaturgo sabia o que estava falando. Ou melhor, escrevendo. Magistralmente, diga-se de passagem.
E esse último Fla-Flu confirmou mais uma vez essa máxima do mestre Nelson. O elenco do Fluminense é, segundo a crítica "especializada", teoricamente melhor que o do Flamengo. Tanto que os mais exaltados da imprensa chegaram a declarar – pelo segundo ano consecutivo – que o time das Larangeiras seria o mais forte candidato ao título por ter realizado "as melhores contratações dentre os grandes clubes do Rio de Janeiro". O fato é que quando a bola rolou a história foi outra e até agora só o Mengo está garantido na final. Portanto, mesmo ainda longe do ideal, o rubro-negro da Gávea passa por um momento infinitamente melhor que o seu rival.
Mais uma vez o Flamengo teve a maior posse de bola e de novo não conseguiu transformar essa superioridade em gols. Incrível como o time dificilmente aproveita um contra-ataque por conta do velho problema, o último passe. Um drama que o Ney Franco não consegue resolver. Aliás, o comandante rubro-negro começa a dar demonstrações de que está perdido, completamente sem rumo sobre qual, de fato, seria o melhor esquema tático e a formação ideal do meio-campo ou ataque. As rusgas já começam a ficar evidente. Sinceramente, que chilique, hein Roni?! Nem o Ronaldinho Gaúcho faria tamanho estardalhaço ao ser substituído. Tudo o que ele fez foi aquele passe para o Souza fazer o gol – relembrando os bons tempos da dupla no Goiás – e só, somente só. Já o camisa 9 mostrou que ainda está longe da forma que o levou a artilharia do brasileirão, mas que quando a bola chega redonda ele não perdoa. Souza é goleador e o problema não é com ele. Deus do céu! Já são 107 partidas às quais o nosso camisa 11 sequer é substituído, sendo que as suas últimas apresentações foram pífias. Aliás, ontem eu só enxerguei o Renato quando o árbitro apitou o fim da partida e ele correu para reclamar que o Beltrami – e esse aí definitivamente não gosta do Mengo – encerrou faltando ainda 1 minuto de acréscimo. Será que ele faria dois gols nesse "tempo todo" e evitaria o vexame de não conseguir vencer o quarto clássico do ano? Pela bola que jogou, nem mais 90 minutos resultariam em coisa alguma. Era mais fácil o Flu fazer mais um, pois no Fla desgraça pouca é bobagem.
Um lance, ao menos para a Nação, valeu a pena de ver e foi digno de um autêntico Fla-Flu: a maravilhosa jogada do Renato Augusto que por pouco não resultou em um gol de placa. Aliás, o jovem camisa 10 fez um extraordinário segundo tempo. Se algum dos seus companheiros estivesse com a metade da sua inspiração, certamente o resultado teria sido muito gratificante para todos nós.
Após a vergonhosa eliminação da Taça Rio com três derrotas seguidas, o que preocupa agora é o clima no clube e o psicológico dos jogadores. Afinal, o Flamengo terá pela frente praticamente quatro "amistosos". Dois pelo estadual e dois pela Taça Libertadores, já que na competição internacional a classificação para as oitavas já está assegurada. É a hora do Ney Franco realmente mostrar que tem o time nas mãos e dar uma sacudida no elenco. Detalhe. Este é o momento de assumir os erros e proclamar mudança de atitude, reassumindo a postura vencedora nos próximos jogos e com isso elevar a auto-estima para quando chegarem os jogos decisivos da final do estadual e do mata-mata da Libertadores.
É sempre assim, quando a gente aposta que vai engrenar, vem uma marcha ré para nos paralisar. Entretanto, acredito que teremos um happy end. Caso não seja possível nas duas competições, que seja na de maior relevância e o Mengo carimbe o seu passaporte para Tóquio. Acredito na virada e nas palavras do "filósofo" Anselmo "mãos de tesoura", do distinto Salão "Língua Solta": o Flamengo perde quando pode e vence quando necessário. Vamos torcer então que essa escrita mais uma vez se confirme. Até porquê, parece que lá pelas bandas da Gávea, quanto pior estiver, melhor ficará. Será?
SRN!
* baiano, 29, poeta e jornalista.
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