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sexta-feira, 11 de maio de 2007

Eu boto fé nessa rapaziada rubro-negra

Eu boto fé nessa rapaziada rubro-negra

por Luiz Hélio Alves*


Em meio à euforia após a cobrança perfeita do lateral "sangue bom" Léo Moura, que decretou qual é, de fato, o clube que reina soberano no estado do Rio de Janeiro, falei para um já bastante embriagado (de cerveja e felicidade) amigo flamenguista: sabe por que o Flamengo é diferente de todos os outros? Porque é o único time que conquista títulos sobre os seus rivais mesmo quando esses vivem melhor momento e contam com elencos "superiores". E mais, ao contrário de outros grandes que só triunfam quando contratam uma constelação de estrelas, o Fla não passa mais de dois anos sem levantar um caneco. E isso vivendo uma grave crise financeira por pelo menos quinze anos, o que obriga o clube a contratar apenas jogadores, em sua maioria, de modesta qualidade técnica. Portanto, essa conquista sobre o badalado Botafogo - que realmente está jogando um belo futebol – não é nenhuma novidade para nós rubro-negros. Foi assim nas cinco finais consecutivas contra o bacalhau e também na Mercosul de 1999, quando o Mengo bateu um então todo poderoso Palmeiras em pleno Parque Antarctica, em meio a uma turbulenta crise que estourou na Gávea por conta da tumultuada dispensa do Romário. E aqui qualquer semelhança não é mera coincidência. Isso é o Flamengo. Tudo ou nada. Apogeu ou declínio. Céu ou inferno. Sem direito a purgatório.


Acontece que a vocação do Clube de Regatas do Flamengo é para a glória.

Por isso vencemos. Porque temos um idolatrado e sagrado manto, ungido com toda uma mística advinda de muita fé e de muita raça. Por isso sofremos mais que qualquer outro torcedor, porque o Flamengo ao mesmo tempo "nos maltrata e nos arrebata de emoção". Por isso festejamos com mais alegria, fazendo carnavais fora de época por todo o país em muitas mágicas noites de domingo ou quarta-feira. Por isso mesmo, merecemos mais que todo mundo a felicidade plena, ainda que efêmera, de amanhecer um novo dia com o sorriso

estampado no rosto, com a alma lavada e com o orgulho de encontrar pelas ruas tantos e tantos irmãos de fé comungando do mesmo sentimento.


Lógico que somos obrigados a lidar com a inveja raivosa da torcida arco-íris esbravejando soltas e insossas palavras, tipo "não mereceu", "foi na sorte" ou "o juiz ajudou". Está certo, então. É nessa hora que o espírito bem humorado do rubro-negro mostra a sua cara. Uma irreverência típica dos seres livres das couraças e das frustrações psicossociais. Típica daqueles que contrariam Freud e decretam férias ao "ego", propondo dias mais felizes ao "id". É ainda nessa hora que podemos lembrar o depoimento, no ano do centenário, do ex-craque Zizinho no qual ele relembra a cabeçada fulminante do (então enfermo) Augustin Valido, que sacramentou a conquista do primeiro tricampeonato. Um gol antológico, eternizado na historia do clube e que até hoje os vascaínos reclamam falta do nosso herói argentino no zagueiro deles. Segundo mestre "Ziza", o ilustre flamenguista Ary Barroso teria dado a seguinte resposta: "Não foi falta, mas deveria ter sido. Melhor que fosse com a mão, para 'matar' ainda mais esses vascaínos de raiva". Sabias palavras.


Sempre foi assim, tanto que o falecido sambista Bezerra da Silva até já cantou esse tema. "Toda vez que o Flamengo vence tem sempre um nhen nhen nhen. O Flamengo é igual à Mangueira, não pode ganhar de ninguém. Não liguem, é intriga da oposição, porque vocês são campeões dos campeões".

Que torcida é essa –


Segundo tempo e o Botafogo já mandava no jogo. Nossos meias (os dois Renatos), continuavam sumidos e sem armar os contra-ataques. Eis que a Nação "entra" em campo e inspira nossos homens de ligação. Talvez o maior espetáculo espontâneo da terra seja a torcida do Mengo em estado de êxtase entoando seus cantos e levando os gladiadores rubro-negros para cima dos seus adversários. Tudo funcionou bem no primeiro gol. A aguerrida roubada de bola do segundo volante (Claiton), passando a bola para o pique do habilidoso lateral direito (Léo), ligando para o meia canhoto (Renato) que lançou para o eficiente e decisivo lateral esquerdo (Juan) e este, com ginga e precisão, botando o artilheiro-matador na cara do gol e depois correndo para juntos caírem nos braços da galera que arrepia. Porque não acontece isso sempre? Porque o time adormeceu logo depois e deixou o alvinegro virar? Porque o Bruno não veio antes para a Gávea? Porque o Renato Augusto não acredita muito mais no seu potencial para fazer outros belos e importantes gols como aquele? E porque o péssimo trio de arbitragem, que já havia marcado erradamente um impedimento de um perigoso ataque do Souza, também errou ao anular a jogada do Dodô? Simplesmente porque o roteiro já estava escrito e tinha que ser assim. Uma épica batalha vencida pelo gigante vermelho e preto. Outra final que ficará para sempre na memória de toda a nação rubro-negra e para, mais uma vez, fazer calar aqueles que teimam em duvidar da capacidade de superação do Flamengo, um clube nascido para vencer.

E vamos à luta –


Durante todo o domingo pré-jogo, ouvi músicas do Fla junto com os amigos para energizar o ambiente e relaxar corações e mentes. Do cd do centenário comandado por Júnior, passando por Moraes Moreira, Bem Jor e pelo cd da Raça Fla. Momentos antes da partida, no entanto, o "FLAmigo" Rosembergue - popularmente conhecido por Ziinha – puxou um cd do imortal Gonzaguinha e falou o seguinte: "depois do hino, será essa música que vai embalar a nossa festa de hoje". E como tem a ver essa composição do Gonzaguinha! Não apenas com a decisão do estadual, mas com todo o momento pelo qual o Fla está passando atualmente:

"Eu acredito é na rapaziada/Que segue em frente e segura o rojão/Eu ponho fé é na fé da moçada/Que não foge da fera e enfrenta o leão/ Eu vou à luta com essa juventude/Que não corre da raia a troco de nada/ Eu vou no bloco dessa mocidade/Que não tá na saudade e constrói a manhã desejada (...)".


É isso Nação, vamos à luta porque quarta-feira tem mais uma batalha para ser vencida. É pedir ao santos e ter fé nessa rapaziada rubro-negra. Saudações vitoriosas!


*poeta e jornalista baiano

Um comentário:

Anônimo disse...

maravilha

Mais um pouco da Magia de ser Rubro Negro

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Flamengo, Serás imortal e renascerás a cada primavera