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domingo, 27 de maio de 2007

O “MINISTRO DA JUSTIÇA” DA NAÇÃO

O “MINISTRO DA JUSTIÇA” DA NAÇÃO

Sou ruim com datas. Não me perguntem quando, mas é claro que aconteceu nos anos 80. Onde? Esta é mais fácil de responder: Maracanã, claro.

Se você quer mesmo saber com precisão, consulte as enciclopédias, mas estas pequenas questões sobre onde, quando, ficam sem a menor importância. Tudo o que vou contar vem se repetindo há mais de 20 anos num mesmo lugar: a tevê da minha memória.

Era uma final do Estadual. Um triangular, se não me engano. Era parte da fase final, mas não era o último jogo. Flamengo x Fluminense. O Fluminense de Assis, de Paulo Vitor. Em condições normais, eu nomearia pelo menos uns 8 dos onze titulares do Flamengo em campo. Lembraria de quase todos, e isso nos ajudaria a estabelecer a data com precisão. Mas eu só lembro do Leandro. Havia, naquele jogo, um cidadão jogando com o manto rubro-negro que ofuscava a todos os outros craques em campo, um cabofriense veloz e habilidoso que, na minha humilhíssima opinião, foi o maior lateral-direito de todos os tempos, o nosso Peixe-Frito Leandro.

Você viu o Leandro jogar? Quem viu, quem tem idade para ter visto, não esquece. E eu nem preciso listar aqui todas as qualidades do craque. Mas devo dizer que ele não era um exímio chutador, muito menos artilheiro. Não que fosse uma deficiência, ele era lateral (depois, excelente zagueiro), não um atacante de conclusão.

Naquela época, o Leandro já era um ídolo e um herói. O Flamengo já era Campeão do Mundo, e Leandro fora um dos destaques da conquista. Eu lembro bem, no desembarque vindo do Japão, na carreata, o Peixe-Frito chorava. Não eram lágrimas de (auto) júbilo, mas uma explosão de alegria, coisa de torcedor mesmo.

Pessoalmente, eu nem ligo se um jogador torce ou não pelo Flamengo. Analisando friamente, o que eu quero é que jogue bem, seja aplicado, profissional, correto, faça o que deve ser feito, conquiste os títulos. Quem torce sou eu, e mais 35 milhões. Tento ver assim, para não me decepcionar com ninguém.

Mas que é gostoso quando você vê nos olhos do ídolo a mesma paixão que você compartilha, lá isso é, não? No caso do Leandro, conta muito o fato de ele ser rubro-negro até o fundo da alma.

Então, estamos combinados que ele já era um herói consagrado e, além do mais, profundamente identificado com a galera. Portanto, voltemos ao jogo, ao Fla-Flu em questão.

O Fluminense vencia. Não era justo. Mas e daí, o que futebol tem a ver com Justiça? Além do mais, nunca vai ser justo que o Fluminense vença do Flamengo. Nunca.

Mas estava 1 x 0, gol do Assis (confira, confira, a memória me trai). O Flamengo dominava, pressionava, massacrava, traduzia este massacre em chutes a gol, e esbarrava na sorte e (por que não dizer) na competência do Paulo Vitor. Quase final de jogo e parecia que não era nossa vez, que a derrota seria inevitável.

Eu, ainda bem jovem, assistia de pé, atrás do gol defendido pelo adversário, no meio da hoje extinta Falange Rubro-Negra. Coração jovem jamais perde a esperança, coração de torcedor também não, e aquele time tinha o coração batendo junto ao da torcida. Contra todas as possibilidades, eu acreditava, a Falange acreditava, a torcida toda acreditava, o time acreditou junto.

Repito, futebol não tem nada a ver com Justiça. Ah... mas seria injusto demais.

Então, a bola foi rebatida pela defesa tricolor. E sobrou livre na intermediária, de frente para o Leandro. Em qualquer outra situação, ele, que não era um chutador, usaria de sua habilidade para recolher a pelota, rearmar o time, abrir pelo lado do campo, alçar de novo a bola na área. Mas ela vinha de frente, rolando, sussurrando pelo gramado: “me chuta, me chuta...”.

Leandro chutou, e pegou “na veia”. Saiu um petardo, o chute mais perfeito que eu vi no Maracanã. O Paulo Vitor voou, esticado, em direção ao ângulo superior esquerdo. Ainda tocou de leve a bola, mas não conseguiu evitar o gol. Chute forte, de primeira, de peito do pé, encaixado na forquilha do gol. Golaaaaaço.

O gol que desfazia a injustiça do, até então, 1x0 adversário. Um gol para lavar a alma. Um gol digno dos Fla-Flus mais históricos. Eu pulava, gritava, comemorava. Eu, a Falange, toda a nossa torcida toda no estádio, milhões de rubro-negros grudados em seus radinhos de pilha espalhados pelo Brasil.

Aquela foi a maior emoção que o futebol me proporcionou. A Conquista de Tóquio foi construída ao longo de 3 gols, as Copas do Mundo foram ganhas por um time que vestia amarelo, não preto-e-vermelho. Aquele gol foi o momento que eu congelei na alma, a minha fonte da alegria instantânea pelo resto da minha vida.

O irônico é que aquele empate não valeu de nada. O Fluminense acabou campeão naquele ano. Importa pouco, nada vai me tirar aquela emoção do peito. O adversário era digno, uma bela equipe também. O título deles nem foi imerecido. Mas aquela eventual vitória sobre nós, seria. E a genialidade do Leandro consertou isso, ao menos.

Anos depois, uns 20 anos depois, encontro o Leandro no túnel apertado que dá acesso ao gramado do Maracanã. Aglomeram-se dirigentes, torcedores famosos ou não, funcionários, atletas profissionais e alguns ídolos do passado. Fiquei ali, ao lado dele, pelo menos uns 5 minutos. Queria contar para ele esta estória, mas sou tímido demais para abordar uma pessoa a quem eu ainda não tive o prazer de ser apresentado, quanto mais num corredor apertado e barulhento. Tomara que ele leia este texto.

Leandro, um grande abraço. Naquele Fla-Flu, você já era um herói. Dali em diante, eu o tenho como o “Ministro da Justiça” da Nação Rubro-Negra.

Affonso Romero.

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Um comentário:

Anônimo disse...

tudo que falaste assino em baixo,lembro bem do gol e digo leandro é tudo e bem mais...