Uma paixão que também arde na arte – capítulo III
Luiz Hélio – luiz.Helio@flamengorj.com.br
Flamengo bom de bola e de samba – final
O Flamengo é um dos símbolos nacionais que mais inspiram a nossa produção cultural. E não é apenas na música e na literatura que o Mais Querido tem as suas glórias enaltecidas ou a sua magia mitificada. É algo que faz parte do imaginário popular tanto quanto o próprio futebol. Assim como o carnaval, o Flamengo é pura tradição. Sempre que o assunto cai no esporte preferido dos brasileiros, o rubro-negro, de um jeito ou de outro, é lembrado. Aliás, não só no futebol. Em quase todas as novelas da TV Globo que foram gravadas no Rio, houve algum tipo de alusão ao Mengo. Simplesmente tornou-se impossível citar o número de folhetins nos quais o time do povo foi tema dos diálogos das personagens ou até mesmo saber em quantos takes a camisa vermelha e preta enfeitou o cenário com a mesma naturalidade com que sempre são mostradas as praias e outras belas paisagens da cidade maravilhosa.
A paixão flamenguista também arde e é reverenciada em vários filmes nacionais. No ano de 1994 o renomado diretor Cacá Diegues nos brindou com o premiado “Veja esta Canção”, filme dividido em quatro curtas inspirados nas músicas “Você é Linda” (Caetano Veloso); “Samba do Grande Amor” (Chico Buarque), “Drão” (Gilberto Gil) e “Pisada de Elefante” (Jorge Benjor), esta última que abre a película e traz o Flamengo como enredo para um fascinante e trágico triângulo amoroso vivido por uma bela dançarina, um policial rodoviário ardorosamente flamenguista e um ídolo rubro-negro. Temos ainda o emocionante “Zico”, que narra a gloriosa trajetória do nosso maior ídolo de todos os tempos e “Amores Possíveis”, de Sandra Werneck, em que o filho de Carlos – personagem do ator Murilo Benício – aparece numa cena jogando bola na rua vestindo a camisa mais famosa do futebol brasileiro. Já em “Bossa Nova”, de Bruno Barreto, o flamenguista Alexandre Borges vive o papel de Acácio, famoso craque que está prestes a deixar a Gávea e ser vendido para a Europa. No recente e belo filme “Zuzu Angel”, o diretor Sérgio Rezende nos emociona revelando a trajetória do jovem estudante Stuart Angel - filho da famosa estilista que virou ícone na luta contra a ditadura – que enfrentou a intolerância do regime militar e foi morto de forma cruel. Mas antes disso, chegou a ser um grande atleta da equipe de Remo do Flamengo, mostrando porque a raça e a coragem são os maiores lemas de um autêntico rubro-negro. Imagens da nação e das bandeiras gloriosamente desfraldadas aparecem ainda nos filmes “O que é isso, Companheiro”, de Cacá Diegues, e no eletrizante “Cidade de Deus”, de Fernando Meireles, para citar somente os que foram vistos por este colunista.
Voltando à música. Após as calorosas e criativas declarações de amor ao mais brasileiro de todos os clubes, proferidas pelo genial Ary Barroso, pelo inesquecível sambista Wilson Batista e pelo badalado intérprete das noites cariocas Ciro Monteiro, o Mengo continuou mantendo uma relação muito íntima com alguns dos maiores craques da música popular brasileira. Ilustres que cantaram e continuam a cantar a alegria de ser rubro-negro, mostrando porque o Flamengo é bom de bola e de samba.
No embalo da Charanga
Durante quase cinqüenta anos a famosa “Charanga do Jaime” embalou as vitórias e saudou o time nos estádios por onde o Flamengo jogou. Em pouco tempo a bandinha de músicos ficou famosa e foi rebatizada de “charanga” por Ary Barroso por conta da desafinação dos seus componentes. Comandada por Jaime de Carvalho - baiano de Salvador que se mudou para o Rio em 1927, provando que a relação do Fla com a “Boa Terra” é antiga e intensa – a Charanga é considerada a primeira torcida organizada do Brasil. Além de trechos dos hinos, muitas marchinhas de carnaval ditaram o ritmo da equipe e fizeram a festa da torcida.
Assim como o Flamengo, a Charanga do Jaime nasceu para vencer. Sua estréia foi na final do estadual de 1942, contra o Fluminense, quando Jaime levou para o estádio uma turma de 15 músicos carregando instrumentos de sopro e de percussão, além de uma faixa com as palavras “Avante, Flamengo!”, ajudando o clube a conquistar o título daquele ano.
A partir do inovador e criativo pioneirismo da Charanga, o que era apenas uma numerosa e festiva torcida acabou virando uma poderosa nação. Uma espontaneidade musical tão latente que os cantos da inigualável massa rubro-negra chegaram a ser gravados através do selo Indie Records, no CD “Grito da Galera”. A Raça Fla – o maior movimento de torcidas do Brasil – naturalmente não poderia ficar de fora e também lançou o seu maravilhoso CD com as participações especialíssimas de Zico, Júnior, Sandra de Sá, Claudinho e Buchecha, além de outros músicos rubro-negros.
E a magnética assim cantava...
Ele chegou com inspiração... quando Benjor começa a cantar “Fio Maravilha”, é impossível a magnética ficar inerte e não cantar junto com o ponta-de-lança afro-flamenguista de tantos sucessos na mpb. “País Tropical” virou uma segunda “Aquarela do Brasil”, virando uma espécie de jingle turístico para apresentar o país aos gringos. Não é à toa que muito estrangeiro – famoso ou anônimo – faz questão de ao menos por uns dias também virar Flamengo. E o Jorge “salve simpatia” foi além, eternizou o Galinho e suas magistrais cobranças: “É falta na entrada da área, adivinha quem vai bater? É o camisa 10 da Gávea...”. Moraes Moreira, baiano de Pituaçu e um dos mais conceituados compositores da mpb, é outro nobre músico flamenguista que não cansa de cantar o seu time: “A gaitinha vai tocar como no tempo de Ary Barroso, pra comemorar mais um gol desse meu vitorioso Flamengo...”. Na despedida de Zico em 1983, cantou: “E agora como é que eu fico nas tardes de domingo sem Zico no maracanã?/E agora como é que eu me vingo de toda derrota da vida se a cada gol do Flamengo eu me sentia um vencedor?”, fazendo até hoje a nação chorar de emoção e de saudade.
Benito Di Paula, em “Meu Brasil, Meu Doce Amado”, confessou: “Eu não moro em Realengo, mas confesso, sou Flamengo”. E em “Charlie Brown”, anunciou: “Se você quiser vou lhe mostrar torcida do Flamengo outra igual não tem”. Wando perguntou e respondeu: “Quem é que faz a alegria do povo? Mengoooo, sacode galera vem Mengo de novo”. E o sambista Bebeto agradeceu o mundial de 1981: “Arigatô Flamengo, Arigatô Flamengo...”. Duas décadas antes, Gilberto Gil mandou “Aquele Abraço” pra nação. Além dos que já foram para o andar de cima, a exemplo de João Nogueira e Bezerra da Silva, ainda temos: João Bosco, Sandra de Sá, Djavan, Herbert Viana, Marcelo D2, Gabriel o Pensador, Alexandre Pires, Ivo Meireles, Caetano Veloso, a galera do Fundo de Quintal, a imensa maioria da nação mangueirense, da Beija Flor, da Estácio – que levou pra avenida o samba-enredo sobre o centenário – e muitos outros artistas que de uma forma ou de outra ajudam a manter sempre acesa a chama da paixão por esse clube que encanta e faz cantar todo o Brasil.
A discoteca básica do Flamengo é extensa e ainda não se sabe ao certo quantos sambas, marchinhas, choros, pagodes e até rocks foram feitos em sua homenagem. Em 1995, quando Júnior (craque na bola e no samba) gravou o CD do Centenário em parceria com Alceu Maia e grandes intérpretes, o pesquisador musical Airton Pisco havia catalogado mais de 60 composições. Entretanto, mesmo o time não conseguindo mais alcançar as glórias do passado esse número aumentou consideravelmente, pois a paixão pelo Flamengo vai além das vitórias ou derrotas. Afinal, bom mesmo é saber que o Mengo existe.
Para se ter uma pequena idéia disso, na última semana fui gratificado com o e-mail do rubro-negro Paulo Tinoco, de Macaé/RJ. Depois de ler a coluna aqui no site, entrou em contato comigo para informar que acompanha o Fla desde 1977 e que há vários anos tem pesquisado a relação Flamengo – Música. Atualmente, dispõe de um rico acervo formado por LPs, Compactos, CDs, DVDs e arquivos em MP3, totalizando 160 músicas (incluindo regravações), mais uma pequena lista de procura. Abaixo segue uma lista organizada pelo amigo Paulo e desde já agradeço o seu musical e rubro-negro “auxílio luxuoso”.
Esta semana a coluna é dedicada ao nosso eterno “maestro” Júnior, por tantas alegrias musicais dentro e fora de campo e também por manter inabalável o seu amor pelo Manto, considerando-o como a sua segunda pele.
Na próxima semana: Juazeiro/BA – de Nunes a Ivete, uma cidade Mengo Mania. SRN e até lá, se Deus quiser!
Luiz Hélio (Juazeiro/BA) é poeta e jornalista e escreve para os sites Flamengo RJ e o oficial do Clube toda terça-feira
MÚSICAS DE HOMENAGEM
MÚSICA | AUTOR | INTÉRPRETE |
A Charanga do Flamengo | Felisberto Martins e Fernando Martins | Alvarenga e Ranchinho |
Arigatô Flamengo | Silva e Bebeto | Bebeto |
Bola de pé em pé | Sebastião Batista e Jackson do Pandeiro | Jackson do Pandeiro |
Carioquinha no Flamengo | Bonfiglio de Oliveira e Valdir Azevedo | Sivuca |
Centenário de Paixão | Evandro Bocão, Eduardo Martins, André Diniz | João Bosco/Júnior |
Coisas do Destino | Wilson Batista | Wilson Batista e solistas Nandinho, Pirillo e Vevé – Campeões de 1942 |
Continuo a ser Flamengo | Hélio Nascimento | Hélio Nascimento |
Desafio do Flamengo e Fluminense | Caju e Castanha | Caju e Castanha |
Eu sou Flamengo | Almir Juliasse e JF Lattari | Júnior |
Fio Maravilha | Jorge Ben Jor | Jorge Ben Jor |
Flaguei | Jaime Bochner | Clóvis Bornai |
Flamengão | Bebeto e Ney Velloso | Bebeto |
Flamengo | Bonfiglio de Oliveira | Sivuca |
Flamengo | Tim Maia | Tim Maia |
Flamengo até Morrer | Marcos Valle | Marcos Valle e Paulo S. Valle |
Flamengo: Bahia de todos os Deuses | Adaptação popular do samba Bahia de todos os Deuses de Bala e Manuel | Wilson Simonal |
Flamengo e Corinthians | Jotinha e Jotão | Jotinha e Jotão |
Flamengo e Mangueira | Jair Binhote e Zé Neto | Júnior |
Flamengo, Flamengo | Renato Luiz Lobo | Maria Creuza |
Flamengo Maravilhoso | Luiz Ayrão | Luiz Ayrão |
Guarda Rubro-Negro | Naylor Sá Rego | Castro Barbosa |
Hino da G.R.E.S. Nação Rubro-Negra | G.R.E.S. Nação Rubro-Negra | |
Hino da Torcida do Flamengo | Getúlio Macedo e Lourival Faissal | Jorge Veiga |
Hino do Flamengo | Lamartine Babo | Coral |
Hino Rubro-Negro | Paulo Magalhães | Castro Barbosa |
Manto Rubro-Negro | Evandro Bocão, Leonel e André Diniz | Jackson Martins |
Marcha do Mengo | A. Regis, C. Filho e M. Martins | Horacinha Correia |
Mengão | Belandi, Bastér e Nonato | Belandi, Bastér e Grupo Sambalanço |
Mengão – A nona Maravilha | Cristiano | Helinho |
Mengão sempre Mengão | José Ventura e Luiz Moreno | Zé Ventura |
Mengo | Edinho e Valdir Azevedo | Valdir Azevedo |
Meu Flamengo, Meu Brasil | Hianto de Almeida e Jurandy Prates | Roberto Paiva |
O Urubu Samuca – Mascote do Mengão | Ilton Saba | Ilton Saba e Coral feminino |
Oração de um Rubro-Negro | Billy Blanco | Jamelão |
Piranha - Hino Oficial da Embaixada dos piranhas | Armando Fernandes | Castro Barbosa com orquestra e coro RCA |
Quem for Flamengo levanta o dedo | Luiz Moreno | Ari Lobo |
Ser Flamengo | Ferreira Gomes, Bruno Gomes, Ayrton Amorim | Geraldo Pereira em 1951 |
Sou Flamengo | Pedro Caetano e Carlos Renato | Jorge Veiga |
Uma vez Flamengo... | David Correa, Adilson Torres, Déo, Caruso | Dominguinhos do Estácio |
Vasco x Flamengo | Francisco Malfitano e Murilo Caldas | Linda Marival e Murilo Caldas |
Zico | Carlinhos Vergueiro | Carlinhos Vergueiro |
MÚSICAS DE CITAÇÃO
MÚSICA | AUTOR | INTÉRPRETE |
1967 | Zé Gonçalves, Rodrigo Nuts e D2 | Marcelo D2 |
1967 | Zé Gonçalves, Rodrigo Nuts e D2 | Marcelo D2 |
Agamamou | Art Popular | Art Popular e Jorge Ben Jor |
Alô Alô Brasil – 40 anos de Rádio Nacional | Dominguinhos do Estácio Samba Enredo Unidos São Carlos – 1977 | Dominguinhos do Estácio |
Aquarilha do Brasil | Robertinho Devagar e Márcio André Samba Enredo União da Ilha – 1988 | Quinho |
Aquele abraço | Gilberto Gil | Quarteto Teorema |
Boa Noite | Djavan | Djavan |
Charlie Brown | Benito di Paula | Benito di Paula |
Eu vou torcer | Jorge Ben Jor | Jorge Ben Jor |
Fla x Flu | Arlindo Cruz e Franco | Alcione |
Gol Anulado | João Bosco e Aldir Blanc | Marcos Sacramento |
Ilmo Sr. Cyro Monteiro | Chico Buarque | Chico Buarque |
Jonny Pirou | Léo Jaime e Tavinho Paes | Léo Jaime |
Marquinhos Cabeção | M.V. Bill | M.V. Bill |
Meu Mengo | Luiz Américo e Braga | Luiz Américo |
Monalisa | Carlinhos Vergueiro e Paulo César Feital | Carlinhos Vergueiro |
O samba bate outra vez | Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro | Coro Saci, MPB-4, Chico Buarque, João Nogueira, Dona Ivone Lara, Elton Medeiros, Zé Kéti, Miúcha, Beth Carvalho, Walter Alfaiate, Maurício Tapajós. |
Oito anos | Paula Toller e Dunga | Adriana Partimpim |
Salve a gente Carioca | Hianto de Almeida e Jurandy Prates | Roberto Paiva |
Salve a Torcida | Carlos Fernando | Chico Buarque |
Samba, Mulher e Mengo | César Costa Filho e Ronaldo Monteiro | César Costa Filho |
Sou Flamengo, Cacique e Mangueira | Luiz Carlos | Grupo Fundo de Quintal |
Só vou de Mulher | Haroldo Barbosa e Luís Reis | Os Cariocas |
Sou nação 2004 – um rio de integração | Samba enredo do GRES Nação Rubro-Negra | Sobrinho |
Vamos Mariquinha | Durval Vieira e Joci Batista | Genival Lacerda |
Fonte: Paulo Tinoco - prtinoco@gmail.com
Um comentário:
Certamente o Flamengo é o clube mais cantado em todo o mundo.
Paulo Tinoco
Macaé.RJ
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