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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Pelé Sobre o Flamengo

Pelé jogou um amistoso com a Camisa do Flamengo. E para registrar esse momento histórico, a extinta Revista Manchete pediu que ele escrevesse um texto contando como foi a experiência. Segue a reportagem. Reparem nos pedaços em Negrito.

Saiba mais sobre o jogo
http://flamengoeternamente.blogspot.com/2007/05/pel-com-camisa-do-flamengo.html
http://flamengoeternamente.blogspot.com/2007/08/pel-no-flamengo.html


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Ele treinou 35 minutos na véspera, e jogou mais 45 no dia da festa, ao lado de Zico, o ídolo Rubro Negro. E essa experiência marcou Pelé demais. Entusiasmado com a torcida do Flamengo, com seus craques, com seu time, o Rei conta todos os detalhes da experiência de sua volta relâmpago ao futebol.

“Confesso que somente conhecia o time do Flamengo através da televisão. Por isso ao ser convidado para participar do jogo beneficente comecei a conversar com alguns amigos que conheciam bem a equipe a fim de que tivesse uma idéia melhor. Na televisão, a gente tem apenas uma pequena idéia dos jogadores, mas nunca vê com atenção como trabalham em conjunto. Logo que cheguei à Gávea, para o primeiro treino, pensava em jogar mais recuado e deixar o Zico lá na frente. O certo é que, estando mais atrás, eu tinha condição de trocar passes e, ao mesmo tempo, fazer lançamentos para o ataque. Isso me ajudaria a colaborar com o conjunto.

O que me preocupava era entrar no time e ficar lá na frente isolado a espera de um lançamento. Também tinha medo do time ter a mania de fazer lançamentos em profundidade e me obrigar a dar piques. Como estava há muito tempo sem treinar, minha preocupação era de ter que dar alguns piques e acabar perdendo a resistência. No entanto, logo nas primeiras jogadas, vi que a situação era boa para mim, pois o time do Flamengo não gostava de passes longo. A equipe trabalhava em triangulação. Observei que, com os laterais apoiando, ficava mais gente junto na hora de atacar. Isso me tranqüilizou. No fim do treino, já sabia como devia me colocar dentro do time. A única coisa que me preocupava era uma pequena dor no músculo da coxa direita. Quando Coutinho me mandou repetir uma cobrança de falta de fora da área, na hora do chute forcei um pouco a perna e apareceu o problema. Não disse nada a ninguém, mas durante a noite, fiz algumas aplicações antes de dormir. Durante a noite, tinha programado um passeio e cancelei tudo, preocupado com o jogo.

No dia seguinte, estava melhor, mas comecei a torcer para que a chuva forte que caiu ao anoitecer não molhasse demais o gramado do Maracanã. Felizmente, foi tudo bem. No vestiário, Coutinho pediu para eu fazer uma palestra. Não haveria preleção. Apenas disse que todos poderiam me xingar se errasse uma jogada, pois era um jogador igual a eles e que não ligassem se os xingasse, pois sempre fui assim na minha carreira. Para os mais jovens disse que estava com 38 anos em véspera de 39 e que me sentia em condições de jogar com eles. Tudo porque havia me cuidado bastante desde menino. Por isso, se os jovens se cuidassem fisicamente, também poderiam continuar jogando muitos anos, assim como eu.

Na hora em que entrei em campo é que foi um problema. Estava nervoso. Ao ver o estádio lotado senti uma responsabilidade que antes não me comovia. Será que iria acertar? Naquele momento eu estava com a camisa da torcida mais amada do Brasil. Confesso que não cheguei a coordenar bem as coisas até o jogo começar. Estava meio confuso. Quando a partida começou senti que os jogadores do Flamengo estavam nervosos por jogarem comigo e eu também estava. A maioria tinha sido menino quando eu jogava pela seleção brasileira, em 1958. Junior e Julio César chegaram a dizer que eu era o 10 do time de botão deles. Carpeggiani havia, junto com Rondinelli, me indicado para ser capitão, o que nem no Santos eu tinha sido. Tudo isso criava um ambiente de tensão entre nós. Por isso, somente com vinte minutos de jogo é que as coisas começaram a se acalmar.

Quando Carpeggiani começou a se encostar em mim e no Zico tudo passou a ser mais fácil. Antes até o ponta esquerda queria me dar a bola a toda hora ao invés de fazer normalmente suas jogadas. O Atlético fez 1 a 0 por falha nossa. Empatamos num penalty que achei legal. Achei melhor o Zico bater a falta porque o time era dele e não meu. Seria tomar o seu lugar e também não me sentia seguro para a cobrança. Zico disse que estava bem e foi bater.

Aquela altura já estava com uma contusão na canela. O zagueiro me acertou. Cheguei a dizer para ele que iria ter forra. O rapaz se desculpou, mas acabei tendo que tomar três pontos para fechar o corte. Felizmente, depois, o Flamengo ficou mais calmo e pôde jogar o seu futebol para golear por 5 a 1. Agora já sei tudo sobre a equipe. Acho que é a melhor do Brasil no momento. Tem um grupo de jogadores novos em condições de chegar até mesmo à Seleção Brasileira, assim como Andrade, Junior, o Julio César, além do Rondinelli e Toninho que já foram convocados, antes.

Carpeggiani e Zico são de fato as estrelas maiores. Com tantos jogadores de alta técnica fica fácil se criar um conjunto. Basta ao Flamengo se apresentar em partidas internacionais com mais freqüência a fim de dar mais segurança e força para os jogadores. O Santos só era sensacional, assim como o Botafogo na fase de Garrincha, porque estávamos sempre no exterior participando de torneios. Isso dá mais status aos jogadores. O time cresce e tem tranqüilidade para exibir o melhor futebol. Observei que os jogadores do Flamengo não tem medo dos adversários. Eles entram em campo para ganhar e isso é muito importante. Os times que entram se defendendo jamais conseguem atingir um bom padrão internacional. Uma vez lancei para a esquerda pensando que era o Julio César e era o Junior que estava lá. Outra vez lancei para o meio da área do Atlético pensando que quem avançava era o Carpeggiani e era o zagueiro Rondinelli. Isso serve para mostrar que o time é de coragem. O time é de gol e é assim que gosto de ver.
A defesa pode até mesmo deixar passar um gol, porque o ataque vai lá e empata. (...)

(...) Confesso que dá gosto jogar no Flamengo, pois nunca vi uma torcida tão entusiasmada quanto ela. Felizmente pude passar por isso, apesar de ser nesse fim de carreira.

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Agradecimentos: Cesar Bravin

Um comentário:

Aldevan Junior disse...

SEI DESTE FATO LAMENTÁVEL... NÃO SOU MUITO FÃ DO PELÉ, MAS O CONSIDERO SIM COMO O MELHOR JOGADOR DE FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS.

AH... NO QUE SOMOU NA HISTÓRIA DO MENGÃO O REI TER VESTIDO O MANTO SAGRADO?

ABRAÇO!