Da Copinha ao Brasileirão
André Rocha - 15/5/2009
Adriano; Mário Carlos, Júnior Baiano, Edmilson e Piá; Fabinho, Fábio Augusto, Djalminha e Luiz Antônio; Rodrigo e Nélio.
Com essa escalação, o Flamengo conquistou a Taça SP de 1990 com a vitória na final por 1 a 0 sobre o Juventus, gol de cobertura de Júnior Baiano após belo passe de Djalminha. Mesmo com os desfalques do zagueiro Tita, suspenso, Marquinhos, Marcelinho e Paulo Nunes, servindo à seleção sub-20, o talentoso time rubro-negro, comandado pelo técnico Ernesto Paulo, soube impor sua maior categoria e conquistou um título inesquecível, que marcou aquela equipe como um dos melhores campeões do torneio.
Poucas chances no início
Era uma geração tão virtuosa e promissora que, mesmo antes do título, já cedia suas jóias aos profissionais. Em 1989, Telê Santana utilizou Júnior Baiano, Marquinhos e Marcelinho no time principal, mas, ainda muito verdes, acabaram retornando à base.
A explosão do talento de Djalminha na Copinha era vista como o alento para a despedida de Zico no início do ano. No entanto, os meninos precisaram esperar um pouco mais porque Valdir Espinosa, o sucessor de Telê, preferia trabalhar com jogadores mais experientes, até pelo clima conturbado no clube. Com um time sofrível comandado por Edu Marangon, o Flamengo fez um Estadual ruim, terminando em quarto lugar.
Tudo começou a mudar com a chegada de Jair Pereira para o segundo semestre. Apesar da campanha irregular no Brasileiro, o time acabou campeão da Copa do Brasil. E se no empate sem gols contra o Goiás na decisão apenas Piá esteve presente entre os titulares, o técnico deu oportunidades ao longo do torneio a Júnior Baiano, Fabinho, Marquinhos, Marcelinho, Djalminha e Luis Antônio.
Luxemburgo e o embrião do time campeão
Em 1991, Vanderlei Luxemburgo chegava ao seu clube do coração com a promessa de títulos e de fazer a geração talentosa decolar. Depois de um início difícil no Brasileiro, o treinador foi acertando a equipe e, após a eliminação na Libertadores para o Boca Juniors de Batistuta, começou a moldar a formação que daria frutos mais tarde. Com Marquinhos como volante ao lado de Charles Guerreiro e Marcelinho atuando aberto na ponta-direita, formando o ataque com Gaúcho e Alcindo, Luxemburgo ensaiou o 4-3-3 que dava liberdade ao maestro Júnior com o recuo dos pontas acompanhando os laterais adversários e tinha nas bolas aéreas a principal arma ofensiva.
O polêmico treinador saiu batendo a porta e criticando a falta de estrutura do clube. Carlinhos, tranqüilo no trato com os meninos na base, novamente assumiu o time e, adepto do esquema 4-4-2, tentou armar a equipe com Júnior como meia ao lado de Zinho e Uidemar fazendo dupla de volantes com Marquinhos. Na zaga, Rogério (hoje o Rogério Lourenço, treinador da seleção sub-20) ganhou a vaga para atuar ao lado de Wilson Gottardo. As mudanças não surtiram efeito porque o meio-campo era frouxo no combate e não tinha uma chegada forte à frente. O Fla até fez boa campanha na Taça Guanabara, mas não conseguiu impedir o título do Fluminense de Ézio.
O “encaixe” do time no Estadual
Durante a Taça Rio, Gilmar, Gottardo, Júnior e Gaúcho, os líderes do time, se reuniram com o treinador e pediram a volta do esquema com três atacantes. Carlinhos aceitou a sugestão e, para não sobrecarregar os jovens no árduo trabalho de ponteiros que corriam de uma linha de fundo à outra, promoveu um revezamento entre Paulo Nunes e Marcelinho pela direita e Nélio e Djalminha pela esquerda. A equipe se encontrou com Uidemar, Júnior e Zinho formando um meio-campo técnico e que não precisava marcar tanto já que os pontas faziam o “trabalho sujo” e ainda desafogavam os laterais Charles Guerreiro e Piá, que podiam marcar mais por dentro.
Organizado e ofensivo, o time venceu o segundo turno e, na decisão, após empate em 1 a 1 no primeiro jogo, gol de Paulo Nunes, a vitória por 4 a 2 na disputa derradeira, com direito a gol de Nélio e outro do camisa 9, artilheiro do campeonato, após cruzamento preciso de Piá.
Brasileiro 1992: ascensão, queda e apoteose
Com a permanência de Carlinhos e da maior parte do elenco na virada do ano, o Flamengo começou o Brasileiro com uma equipe entrosada e com fina sintonia. Na quinta rodada, com a vitória por 3 a 2 no jogaço contra o São Paulo no Maracanã, o Fla chegou à liderança do campeonato.
Mas a derrota em casa por 2 a 1 para o Cruzeiro e a posterior contusão de Gaúcho fez o time sair do prumo e Carlinhos voltar ao 4-4-2, com Paulo Nunes e Nélio no ataque. A equipe foi humilhada pelo Vasco de Edmundo e Bebeto na derrota por 4 a 2 e chegou a ser considerada alijada da disputa do título. Mas uma improvável combinação de resultados e o crescimento do time com a volta de Gaúcho e o retorno do esquema antigo recolocaram o Fla no páreo e, após a vitória por 2 a 0 sobre o Internacional, o time chegou à surpreendente quarta colocação, caindo no “grupo da morte” da fase semifinal com São Paulo, Santos e Vasco.
O início foi bom, com a vitória sobre os reservas do São Paulo, que estavam envolvidos com a final da Libertadores, mas logo depois veio a derrota para o Santos no Morumbi. Nos dois confrontos seguidos com o Vasco que ganharam ares de guerra, um empate em 1 a 1 e vitória por 2 a 0 com gols de Júnior e Nélio e grande atuação de Júnior Baiano, que anulou Edmundo. A derrota para o São Paulo fora de casa deixou o grupo em situação inusitada: o Vasco precisava vencer o São Paulo e torcer por um tropeço do Fla contra o já eliminado Santos. E os rubro-negros necessitavam da vitória no Maracanã e apoiar os arquirrivais em São Januário. Edmundo e Bebeto deram show nos 3 a 0 do time cruzmaltino, mesmo com a torcida pedindo para entregar a partida depois que Gaúcho marcou o último gol no triunfo por 3 a 1 que colocou o Fla na final.
Na primeira partida da decisão contra o favorito Botafogo, o Flamengo surpreendeu com uma atuação avassaladora e três gols no primeiro tempo. Destaque para Fabinho, improvisado na lateral-direita, que deu belo passe para o gol de Nélio. Piá foi outro a contribuir com uma assistência para Gaúcho no terceiro gol. A segunda partida foi de festa da torcida rubro-negra, apesar da tragédia da queda de torcedores da arquibancada superlotada. O 2 a 2 garantiu um título surpreendente até para muitos rubro-negros.
O Flamengo de Carlinhos, com uma bem dosada combinação da experiência de Gilmar, Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Uidemar, Júnior e Gaúcho com a juventude de Júnior Baiano, Piá, Fabinho, Marquinhos Paulo Nunes, Nélio, Marcelinho e Djalminha alcançava o topo do futebol nacional. E vários daqueles meninos que fizeram parte da última grande geração formada no clube iniciavam ali carreiras repletas de títulos que prosseguiriam no Fla ou em outros clubes.
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