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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Tá na cara que vai dar empate

“Tá na cara que vai dar empate, prá dá renda”. Foi assim, num português, digamos, bem popular, que o meu amigo até hoje arrependido me respondeu, quando perguntei se ele iria ao Flamengo x Vasco que deu ao Rubro-Negro o Carioca de 1978.

Na época, vale ressaltar, os clubes ainda dependiam, e muito, de bilheteria, e a daquele ano, caso ocorresse efetivamente uma decisão de verdade, os dois rivais disputando o título sob as mesmas condições, prometia ser fantástica.

Esse diálogo se deu, de verdade, num restaurante da Garcia D´´Avila, em Ipanema, e o sujeito que fez tal declaração, acreditem, vez por outra cruza comigo e fico meio constrangido, pois a minha reação, entre uma e outra garfada de filé com fritas, foi um tanto radical.

Hoje, mais de 30 anos depois, eu continuo reagindo contra essa estupidez - “Esse jogo é prá dá (sic) renda” – e na realidade a minha revolta é ainda maior, porque depois de trabalhar 20 anos com futebol, mais precisamente desde 1989, sei da intensidade com que se disputa cada partida.
Assim ficou difícil explicar a esse amigo que a conquista do Estadual de 1978 começou exatamente no dia em que a diretoria do Flamengo já havia entendido que seria mais interessante faturar o título do que correr o risco de perdê-lo numa eventual decisão.

E mais, que os próprios jogadores, como já esclareceram muitos dos ídolos da época, como Rondinelli, Júnior e Zico, que ganhar o campeonato começaria a fortalecê-los definitivamente. Sabe-se hoje que os cartolas provavelmente iniciaram um processo de renovação, trocando e dispensando um punhado de peças – talvez até o próprio Zico – no caso de um insucesso.

Explica-se: o Flamengo já havia sido derrotado no Carioca de 1977 para o Vasco. Assim, caso se repetisse a dose, ficaria evidente, segundo a visão da turma, na teoria e na prática, que aquele grupo era “perdedor”.

Eu cheguei no Maracanã, naquele domingo, 3 de dezembro de 1978, por volta de uma da tarde. Não havia, naquele tempo, para o bem do povo e felicidade geral, essa bobagem de “choque de ordem”, que proíbe o cidadão – que trabalha e paga imposto – de beber a sua cervejinha em torno do estádio. Ainda não havia, por aqui, a Suíça imposta pela Guarda Municipal. Também não existia celular. E isso acabou me impedindo de telefonar ao meu amigo, já distante pela ausência da tecnologia, e dizer-lhe que havia um clima absolutamente favorável à nossa vitória.

O Flamengo x Vasco de 1978 foi um jogo de poucas chances de gol. Aos 40 minutos do segundo tempo, Rondinelli resolveu sair jogando e perdeu a bola para Roberto Dinamite, que deixou Paulinho Massariol na cara de Cantarelli. O atacante chutou torto.

Pois dois minutos depois, Rondinelli, ainda candidato a vilão, partiu para a área cruzmaltina, na esperança de aproveitar um escanteio que Marco Antônio cedera de forma infantil. Cheguei a comentar com meu amigo Sérgio Peçanha, com ce cedilha ou dois esses, pouco importa , antes da cobrança. “Pô, mas é o Zico que vai bater?”.

O resto da história todo mundo sabe. A bola entrou, o Flamengo foi campeão, a Gávea ficou superlotada – naqueles tempos o clube oferecia chope quando o clube era campeão – e os craques acabaram sendo preservados. Daí em diante foram... bem, não vou relacionar os títulos para não ocupar espaço. Dia desses, lá se vão uns seis meses, o amigo esbarrou comigo no samba, duas ou três da manhã, já bastante animado. Pôs a mão no meu ombro e exclamou. “Porra, porque você não me levou naquele jogo?”. E eu respondi, esboçando uma gargalhada. “Porque era pra dá renda!”.
Salve, Rondi! Se a Igreja Católica tem os seus santos, nós também temos os nossos.

Roberto Assaf
http://mkt.flamengo.com.br/reidorio/

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