A vigarice segundo a qual um clube com as tradições do Grêmio possa entregar um jogo tem origem na canalha que comanda a imprensa paulista e que pretende esvaziar um certame que não terá - não terá! - por campeão o “grande modelo de organização e gestão” que é o escrotíssimo São Paulo Futebol Clube.
(E a arrogância absolutamente nojenta do engodo Rogério Ceni - responsável, como Kaká, por este futebol asséptico de hoje - terá de entubar que a monumental bagunça do Clube de Regatas do Flamengo seja tão hexa quanto a bambizada escorreita do Morumbi). (Sinceramente: que se foda o planejamento se pudermos viver, vez ou outra, uma irresistível arrancada como esta do onze rubro-negro).
Em primeiríssimo lugar: o Flamengo é hoje líder do campeonato brasileiro, com dois pontos de vantagem sobre os demais postulantes, por méritos seus absolutos. Porque venceu, canalhada! (E que se saiba reconhecer - sem chororô - a honra alheia, a dignidade de quem triunfa sob as regras, honesta e claramente).
O Flamengo só depende de si - é o único, claro - e isso não se deve a armações de bastidor e desonras esportivas outras.
Não! (E que se saiba reconhecer - sem chororô, repito - a glória alheia, lograda, gol a gol, sobre os gramados de um país inteiro, na bola, em 38 partidas!, como se deve sempre decidir o jogo). (Que se saiba reconhecer, canalhada, que a glória também pode ser alheia).
A extraordinária posição do Flamengo - invejável, sim - decorre do futebol e foi conquistada no campo, na peleja, no jogo jogado, nas vitórias, no fato incontornável e decisivo segundo o qual, nos confrontos diretos com Internacional, Palmeiras e São Paulo, dentro e fora do Maracanã, só perdeu uma, contra o Palestra. (E o futebol será sempre melhor - e mais interessante - quando tratado como… futebol).
Se, ao fim do próximo domingo, o Flamengo for o campeão, assim o será pelo mesmo motivo que ora o põe sozinho na liderança: porque terá vencido um - mais um - respeitável oponente. (Porque, decorridos 38 matches duríssimos, foi o melhor na maioria deles).
A privilegiada situação do Flamengo decorre essencialmente de algo incontornável - e poderoso: o Flamengo, o Flamengo comandado por este fabuloso Andrade, joga como Flamengo. (E aí, canalhada, aí não tem jeito: a gente vai atrás, o negócio ganha corpo, e algumas verdades se restabelecem, colocando “estrutura”, “centro de treinamento”, “planejamento” etc. na secundária ordem empresarial a que pertencem: é no relvado que a parada se decide e, nele, ah!, nele convém não deixar o Flamengo chegar).
É tudo muito simples.
Tão simples que resultará, a propósito dos técnicos de futebol, numa profunda revisão do modelo absurdo que paga 500 mil a figuras como Wanderley Luxemburgo e Muricy Ramalho - tidos e havidos como sumidades, como mestres, como doutores, tudo em detrimento do esporte, do jogador, do craque, daquele que decide. (E quero então relembrar uma frase minha antiga: técnico de futebol é que nem rainha de bateria e tanto melhor será quanto menos atrapalhar).
E eis Andrade, com sua dicção precária, vestido com roupas esportivas, discreto, um ex-craque que sempre soube ser coadjuvante, de Zico, quando atleta, e de Bruno Mezenga, hoje, quando treinador.
O leitor compreende?
Porra: eu sou fã do Carlinhos, o maior treinador da história do Flamengo; e como não pensar nele, no “Violino”, ao ver o Andrade? Como não lembrar que Carlinhos, também ex-jogador rubro-negro, outrora também um refinado volante, foi técnico de Andrade naquela mítica final - contra o Inter, ora-ora - do Brasileiro de 1987?
O leitor compreende?
É o futebol em estado bruto, com o craque à frente, sempre - com Petkovic e Adriano; mas com todo o caráter do que é herança, do que permanece, do que se transfere às novas gerações.
O leitor compreende?
Carlinhos, Andrade, Petkovic, Adriano…
Petkovic. De novo. E como não pensar na alegria que senti ao ver o chute genial vencer o arqueiro cruzmaltino e decretar - aos 43 do segundo-tempo - o tri de 2001?
O leitor compreende?
Adriano também estava lá. Revejam aquele gol. Reparem no momento em que Pet, talvez no instante em que compreendia a própria imortalidade, cai ao chão, morto e renascido, e vejam o jovem Adriano, camisa 18 [um promissor reserva], a pular e invadir o campo para comemorar…
O leitor compreende?
Sim, é o que quero dizer: tudo se encaixa, tudo faz sentido, tudo permanece e permanecerá - porque orgânico, vivo e consistente!, é o Clube de Regatas do Flamengo.
O leitor compreende?
O Flamengo, este Flamengo que é novamente Flamengo, botou a razão, o tipo racional em que me transformei, em seu devido [e bastardo] lugar, e devolveu-me a deliciosa estupidez da mobilização total por um jogo de futebol - algo de que já me julgava incapaz.
E como, sem saber, eu me ressentia disso!
Como me fazia falta estuporar a garganta num grito de gol…
Ao longo desses anos todos - acho que desde Petkovic, em 2001 - fui muito ao Maracanã [fui campeão algumas vezes], sim, mas sempre, hoje vejo, de maneira superficial… Que imbecil!
Há quanto tempo - quanto desperdício! - não elevava esta formidável irrelevância que é o futebol ao que de fato e gloriosamente é: a identidade de um homem.
E o que hoje sou?
Eu sou Flamengo, porra!
E quero escrever aos vagabundos que, diante do provável fracasso do São Paulo e do futebol paulista neste campeonato brasileiro, logo se adiantam, comprazidos, em desqualificar o torneio, que baixo nível técnico - essa invenção aviadada - é o cacete!
Um certame que chega à sua rodada final com quatro postulantes ao título - e isso sem considerar a épica disputa contra o rebaixamento - é construído pelo equilíbrio, pela competição incansável, pelas alternativas cardíacas, pelas reviravoltas coronarianas, pelos gols de exceção, pelos estádios lotados; um certame como este, em que nos roubaram a cerveja e outros tantos e fundamentais prazeres de torcedor, é de alto nível porque ainda assim resiste e cultiva esta rara, cada vez mais rara, capacidade de emocionar.
Isto é alto nível, canalhada!
Domingo, no Maracanã, aconteça o que acontecer, serei eu - serei Flamengo, seria hexa - mais que nunca: estarei com os meus amigos maiores, assim como deve ser sempre.
Carlos Andreazza
4 comentários:
Gostaria de comentar a chamada do fantástico ontem no meio do jornal nacional, eles como qualquer ser, deveriam colocar na chamada da reportagem "tudo sobre os jogos do brasileirão", imagens dos times por ordem de colocação do brasileiro, mas colocaram Inter, SP, Flamengo e Palmeiras...Ou seja, eles já sabem o resultado final???
Deixa eles. Depois a gente ri melhor.
Rumo ao Hexa
ISSO AI CAMARADA,BOA FESTA.
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srn!
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