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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Píndaro, o Gigante de Pedra


Píndaro, o Gigante de Pedra

Estamos em 1920. O Campeonato Carioca está em suas primeiras rodadas. O time a ser batido é o Fluminense, o atual tricampeão da cidade, mas desde o início da competição quem desponta como grande candidato ao título é o Flamengo, com várias vitórias contundentes. Já na terceira rodada, o rubro-negro quebra um tabu de quatro anos e derrota o rival das Laranjeiras por 2-1. O Flamengo possui um time recheado de bons jogadores, como Kuntz, Telefone, Japonês, Sisson e Junqueira, todos na Seleção Brasileira, além do inglês Sidney Pullen, o craque e líder da equipe.

No entanto, surge um problema inesperado para a sexta partida, contra o modesto Palmeiras Athletic, de São Cristóvão. Os defensores Burgos e Antonico se contundem e estão fora do jogo. O time subitamente se vê nenhum zagueiro para colocar em campo. Hoje em dia esse problema parece banal, com as várias funções táticas que um jogador é capaz de cumprir. Mas, na aurora do futebol, onde cada "footballer" atuava em posições fixas e definidas, a falta de um especialista poderia ser capaz de comprometer fortemente o funcionamento de uma equipe. Obcecado pelo título, o Flamengo não podia facilitar. O jeito foi recorrer a um dos seus antigos heróis, já aposentado dos gramados, exercendo sua profissão de médico sanitarista da Prefeitura do Distrito Federal. Píndaro de Carvalho Rodrigues, ou simplesmente Píndaro.

A história de Píndaro se confunde com a própria história da fundação do futebol do Flamengo. Titular da brilhante equipe do Fluminense campeã de 1911, Píndaro era um dos muitos insatisfeitos com os métodos de trabalho do "ground committee" (espécie de comissão técnica com plenos poderes) e, após o incidente da barracão do atacante Alberto Borgerth, integrou o grupo de oito dissidentes que abandonou o tricolor e conseguiu (não sem intensa negociação) criar o Departamento de Esportes Terrestre do Clube de Regatas do Flamengo, em dezembro de 1911.

Píndaro atuava como "fullback direito", algo como o zagueiro-central de hoje. Alto e forte, impunha-se pelo vigor físico, pela impulsão e pela capacidade de liderança, características que lhe valeram a alcunha de "Gigante de Pedra". A fama de Píndaro se torna ainda mais impressionante quando se leva em conta que o futebol dos anos 10, 20 se notabilizava pela índole totalmente ofensiva, em que equipes atuavam com cinco, seis, até sete jogadores no ataque, e jogos com mais de dez gols não eram raros. Nesse contexto, pouquíssimos defensores conseguiam se sobressair.

Em 1912, o Flamengo estréia sua equipe de futebol. E Píndaro lá está, alinhando na primeira formação, que trucida o Sport Club Mangueira (time de uma fábrica de chapéus, sem nenhuma relação com a escola de samba) por 16-2, perde o primeiro Fla-Flu (2-3), jogo em que marca o primeiro gol de um zagueiro com a camisa flamenga, devolve a "gentileza" ao tricolor no jogo seguinte (4-0) e faz do rubro-negro um dos times mais fortes da cidade, já no seu ano de estréia. Mas o título carioca acaba conquistado pelo Paissandu Atlético.

1914 é um ano especial para Píndaro. O Flamengo, após chegar perto novamente no ano anterior, finalmente conquista o título carioca. O grande adversário é o América, derrotado pelo rubro-negro em dois jogos duríssimos, que acabariam decidindo a competição. Num deles, o Gigante de Pedra seria decisivo. Os rubros estão na frente, 1-0. O jogo se arrasta com a persistente vitória americana. O Flamengo, como era de seu feitio, atira-se com todos os jogadores à frente em busca do empate, largando seu goleiro ao abandono (essa postura suicida já havia proporcionado derrotas contundentes e viradas antológicas). Até que, numa bola alçada na área, Píndaro marca o redentor gol de empate, tranqüilizando a equipe e abrindo caminho para a virada por 2-1.

Ainda durante o campeonato, o Flamengo aproveita uma pausa e vai a Curitiba, realizando pela primeira vez jogos fora do Rio de Janeiro. Seus craques são recebidos como heróis, a mobilização na cidade é intensa. O time vai participar dos festejos da inauguração do Estádio da Baixada da Água Verde (depois conhecido como Joaquim Américo, bem mais tarde derrubado para a construção da Arena da Baixada), num amistoso contra o Internacional local, um dos clubes que dariam origem ao Atlético Paranaense. Cerca de 3 mil pessoas (uma multidão para a época) abarrota as dependências do campo e se encanta com o futebol apresentado pelo Flamengo, que demonstra praticar um jogo de nível muito superior ao conhecido pelos paranaenses. Vence sem qualquer dificuldade por 7-1. Píndaro, muito elogiado, tem grande atuação, inclusive marcando um dos gols flamengos. Após a exibição de gala contra o Internacional, o rubro-negro ainda faria mais dois amistosos (9-1 na seleção paranaense e 15-0 no Paranaguá Sport), encerrando a sua primeira excursão interestadual. Na volta ao Rio, confirmaria a conquista do título carioca.

Mas havia mais naquele 1914. A Federação Brasileira de Sports (hoje CBF) resolve reunir pela primeira vez jogadores das principais equipes do Rio e de São Paulo, montando assim aquela que é considerada a primeira Seleção Brasileira da história, para um amistoso contra o Exeter City, da Inglaterra. Cabe aos defensores Píndaro e Nery, que indiscutivelmente formavam a mais sólida e forte dupla de zaga do Brasil na época, a honra de terem sido, já na primeira partida, os primeiros jogadores do Flamengo a servirem à Seleção do Brasil. O Gigante de Pedra iniciava assim uma vitoriosa trajetória, que culminaria com a conquista do Sul-Americano de 1919.

E assim voltamos a 1920. O Flamengo já não tem Píndaro, aposentado após servir ao manto flamengo por quase uma década e ajudar na conquista de vários troféus, como o bi carioca de 1914-15. Mas ainda precisa do Homem de Pedra, pois está sem zagueiro e tem jogo domingo. Procurado, Píndaro aceita na hora. Nem discute. Entusiasma-se com a idéia de, pelo menos mais uma única vez, viver a inesquecível experiência de ser Flamengo. E, mesmo sem treino, sem ritmo, sem o molejo dos atletas em atividade, Píndaro comanda a defesa como um veterano de vários anos. Respeitadíssimo, impõe-se soberano e senhor de sua área, mantendo intacta e indevassável a cidadela flamenga, enquanto a turma resolve a parada lá na frente. O Flamengo vence por 5-0, segue na caminhada que irá levá-lo ao terceiro título carioca de sua história. Feliz, Píndaro dá sua missão como cumprida e volta ao trabalho de médico.

Tendo participado do primeiro time, do primeiro título, do primeiro campeonato invicto, da primeira partida fora do Rio, sendo o primeiro zagueiro a marcar gols com a camisa do Flamengo e tendo integrado a primeira seleção brasileira da história, Píndaro de Carvalho simboliza como poucos a aurora do futebol carioca e brasileiro, um exemplo vivo das raízes e origens do Flamengo, clube que aprendeu a respeitar e defender com todas as suas forças até o fim de sua carreira.

Um pioneiro.

5 comentários:

Anônimo disse...

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abraço espero a sua resposta...!!!

Luís Eduardo disse...

Jogadores que honram a camisa rubro-negra com muita garra e suor, é o mínimo que a Nação exige.

"Nada do Flamengo, tudo pelo Flamengo"
SRN, Luís Eduardo
Blog Saudações Rubro-Negras- http://jlwrubronegros.blogspot.com
Blog SRN no twitter: http://twitter.com/LuisSRN

Julio disse...

Com o perdão da má palavra Warley, mas....

Putakiupariu, o Píndaro era foda!!!!

warley.morbeck disse...

É isso aí pessoal. É disso que são feitos os mitos. Valeu pelas visitas.

Dunlop disse...

Belo texto!