Flamengo, Murici e o meu primo Alemão.
A minha história começa anos antes deste jogo. Metade da década de noventa e Renato Gaúcho havia feito aquele gol de barriga. No gol, Roger, amigo de infância em Cantagalo que havia escrito uma dedicatória naquela minha camisa rubro negra.
Depois daquele gol, Roger virou um maldito para os torcedores do flamengo e aquela camisa igualmente maldita pra mim.
Mas eu não podia me desfazer “do manto”!
Guardada bem no fundo de uma gaveta, junto a aquelas roupas que você tem vergonha de usar mas teima em não jogar fora, aquela camisa ficou maldita até o dia em que recebi a visita do meu novo primo alemão.
Tudo era novidade pra ele e pra mim. Inclusive a existência dele.
Foi então que a providência divina, ou o sobrenatural de Almeida, interveio.
Tinha que mandar aquela camisa maldita pra longe, a Alemanha é um país distante, pronto, sorridente e feliz dei a camisa e contei as glórias do time e disse ao ele, em péssimo inglês, que aquele era a identidade de brasileiro dele na Europa.
Mais de dez anos depois, quem está no Brasil, em Maceió? Sim, caros amigos o primo alemão.
Estando aqui eu logo convidei o Robert, esse é o nome dele, a ir ao jogo.
Ontem, dia 16, passei na casa de minha mãe para pegar o nosso Alemão e?
Sim amigos, ele estava lá, com aquela camisa, aquela mesmo, a maldita.
Prenúncio de má sorte? Não, não há má sorte que faça o Murici jogar melhor que o Flamengo.
Pegamos um taxi e o Alemão parecia estar hipnotizado pelo número de pessoas que estavam em torno do Estádio Rei Pelé duas horas antes do jogo.
Encontramos com meus amigos no local indicado ( que falta faz uma estátua do Belini).
Pausa para a foto. Eu de olho no alemão e na fila quilométrica pra entrar no estádio. Falta uma hora para o jogo. Ingresso na mão fila que não anda e o Alemão começa a se comportar de um modo estranho para um alemão. Começa a ficar impaciente, irritado.
A fila anda. Portão, catraca, eu, o alemão e a camisa.
Já não havia tempo pra nada, era hora do hino nacional e não havia lugar pra ficar sentado.
Tal qual legítimos “Geraldinos” ficamos lá em pé durante o jogo.
A esta altura do campeonato, matando saudades da geral, ficamos em pé.
Começa o jogo e o alemão começa a acompanhar o canto da torcida.
Pulos, balançar de braços e e o alemão já não é mais alemão, é um de nós.
Falta a camisa, a maldita.
Não preciso dizer que no primeiro tempo os jogadores do Murici se multiplicavam em campo.
Aquela altura eu já esperava um gol de barriga.
O gol não veio, mas o Ronaldinho Gaúcho levou um lençol de um jogador do Murici.
Renato e Willians disputavam quem errava mais passes.
Maldonado e Angelim disputavam quem era o mais lento.
Ronaldinho e Thiago Neves brincavam de “onde está Deivid” e Deivid brincava de esconde - esconde com os dois.
Com isso o Murici ficava mais no ataque e o tempo ia passando.
Vem a única boa jogada do primeiro tempo e a bola para na trave. Pronto, eu começo a pensar em dar um jeito de fazer o alemão tirar a camisa.
Fim do primeiro tempo, um calor que só faz em Bangu, eu falo pro Alemão tirar a camisa para se refrescar. Ele se recusa.
Times voltam a campo e tudo como antes. É hoje. Olho pro alemão e ele começa a balbuciar umas palavras que eu não compreendia.
Faço sinal, balanço os braços e o alemão lá, olhando pro campo e repetindo a mesma coisa, parecia hipnotizado.
Chego mais perto e começo a entender o que o Alemão falava: “NE-GUE-BA....NE-GUE-BA!!!”
Eu não acredito em bruxaria, feitiço e coisas assim, seria botafoguense se acreditasse, mas que naquela hora era a camisa falando pela boca do alemão, era.
Dois minutos depois, todas as camisas do estádio pediam “Negueba, Negueba!”.
Luxa põe Egídio e Fierro, o time melhora, mas ainda assim faltava o gol.
Me viro e o estádio começa a comemorar. Gol? Não, Negueba ia pro jogo.
Sai Deivid, entra Negueba.
O time melhora e o alemão começa a pular junto com a galera.
Léo Moura, Fierro e Negueba começam a tomar conta do lado direito do campo, bem na minha frente.
Em um cruzamento perfeito, gol de Ronaldinho, um a zero.
O jogo recomeça e o Fla já domina a partida, os jogadores do Murici não queriam o empate, queriam era conhecer o Rio de Janeiro.
Negueba pega a bola e dá uma caneta no volante do murici que, pra evitar o pior, faz a falta.
Começa a chuva fina e Renato, que não acertava nada, acertou o chute e fez o segundo.
Aí o Murici tinha que sair pro jogo pra conseguir o gol que precisava.
Com mais espaço Ronaldinho deu uma arrancada de Ronaldinho e serviu a Thiago Neves. Quase.
Acaba a chuva e começa o dilúvio.
Eu, o alemão e o resto do estádio, tínhamos a impressão que faltava algo, vem o gol Negueba e agora não falta mais nada. Fim de jogo e fim da maldição da camisa.
Eu já começo a pensar em ir embora quando Ronaldinho repete o gesto da estreia e começa a reverenciar a torcida.
Olho pro alemão e ele começa a balbuciar de novo. Chego mais perto e pergunto:
-O que é ?
Ele me diz duas frases: “Tamo Junto! Agora eu sou Mengão!!!”
Cruz credo!
http://www.flamengoaspirinaseurubus.blogspot.com/
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