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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ninguém é mais Flamengo que o Lessa!





O meu estado de consciência rubro-negra teve despertar exatamente no início da década de 70. Sou um privilegiado, pois, ninguém mais do que o Galinho de Quintino ensaiava os seus primeiros dribles e gols naqueles anos. Daquela época em diante vi o Flamengo ganhar Carioca, Campeonato Brasileiro, Libertadores da América, Mundial Interclubes, Copa do Brasil e mais uma infinidade de competições nacionais e internacionais.

Com tantas conquistas, qualquer um poderia supor que sempre foi fácil torcer pelo Mengão. Mas quero ver alguém falar que era moleza vestir o Manto Sagrado nos idos dos anos 60, onde um cara de pernas tortas cansou de garantir bicho (premiação) para os ocupantes de General Severiano. E não é que o Flamengo não formasse bons times, mas ocorre que o fenômeno Garrincha era um destruidor de adversários, só parando mesmo para o Santos de Pelé.

Mas Hildebrando Lessa Jesus era um desbravador. Sei que ele ia ver o Flamengo enfrentar o Olaria na Rua Bariri, onde tinha gramado apenas para esconder os buracos do campo. Para Lessa, definitivamente não havia distância para ver o time do coração: Conselheiro Galvão, Moça Bonita, o antigo Raulino de Oliveira em Volta Redonda, o campo da Portuguesa na Ilha do Governador (onde ventava pra caramba!), Figueira de Melo, Godofredo Cruz, Ítalo del Cima, Canto do Rio, Campos Sales, Conselheiro Galvão em Madureira, berço do samba e motivo de algumas reclamações de dona Vera Lessa, fiel companheira de longa data, já que o marido, além do Flamengo, gostava de ouvir uma boa percussão.

Esse Flamengo que o Lessa testemunhou era repleto de heróis, dentre os quais Carlinhos Violino, Liminha, Dida, Dequinha, Jayme de Almeida e outros tantos que jamais tiveram as mordomias dos jogadores atuais. E Hildebrando tinha orgulho em enaltecer os que insistiam em levar as cores preto e vermelho Rio de Janeiro adentro, embora as conquistas fossem árduas e mais espaçadas, diante da presença de outros grandes times da Cidade de São Sebastião, onde até mesmo para o Bangu perderíamos o Campeonato Carioca de 1966.

Mas todo e qualquer sofrimento foi compensado com o Flamengo que se formaria após a fatídica decisão em pênaltis contra o Vasco da Gama no Campeonato de 1977. Ali nascia a geração vitoriosa da década de 80 onde, além de todos os títulos conquistados, o Flamengo reverteria a vantagem estatística do antigo algoz, devolvendo inclusive uma tão decantada derrota por 6x0 de 1972, quitada com juros, pois foram duas vitórias contra o Botafogo (6x0 e 6x1), além de um jejum de títulos do alvinegro que durou mais de 20 anos.

Lessa era um leitor freqüente de meus Pitacos. Por muitas vezes puxou a minha orelha, reclamando que eu economizava nas críticas a eventuais dirigentes ou jogadores do nosso Flamengo. Pegava também no meu pé, diante de pensamentos divergentes da maneira a qual percebíamos o mundo. Lembro inclusive de um último debate onde, diante de uma pontual polêmica instaurada, eu pensei que o Lessa fosse apelar. Que nada... Teve elevada presença de espírito e levou com o máximo bom humor.

Hoje, diante da perda, e das diversas manifestações de carinho de seus amigos, rubro-negros ou não, descobri que ninguém é mais Flamengo do que o Lessa era. Como homenagem ao grande Flamenguista, eu torço muito para que o time atual de Jayme de Almeida se materialize naquela equipe ofensiva das visões e reivindicações do nosso companheiro Hildebrando.

Hildebrando Lessa Jesus teve em sua vida mais títulos que qualquer membro dos times do arco-íris. Ele foi um vencedor, mesmo desejando possuir a humildade que qualquer rubro-negro gostaria de ter, mas que o Flamengo insiste em não deixar.

Cordiais Saudações Rubro-Negras!
Ricardo Martins – Embaixada Fla BH

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