O
meu estado de consciência rubro-negra teve despertar exatamente no início da
década de 70. Sou um privilegiado, pois, ninguém mais do que o Galinho de Quintino
ensaiava os seus primeiros dribles e gols naqueles anos. Daquela época em
diante vi o Flamengo ganhar Carioca, Campeonato Brasileiro, Libertadores da América,
Mundial Interclubes, Copa do Brasil e mais uma infinidade de competições
nacionais e internacionais.
Com
tantas conquistas, qualquer um poderia supor que sempre foi fácil torcer pelo
Mengão. Mas quero ver alguém falar que era moleza vestir o Manto Sagrado nos
idos dos anos 60, onde um cara de pernas tortas cansou de garantir bicho
(premiação) para os ocupantes de General Severiano. E não é que o Flamengo não
formasse bons times, mas ocorre que o fenômeno Garrincha era um destruidor de adversários,
só parando mesmo para o Santos de Pelé.
Mas
Hildebrando Lessa Jesus era um desbravador. Sei que ele ia ver o Flamengo
enfrentar o Olaria na Rua Bariri, onde tinha gramado apenas para esconder os
buracos do campo. Para Lessa, definitivamente não havia distância para ver o time do coração: Conselheiro
Galvão, Moça Bonita, o antigo Raulino de Oliveira em Volta Redonda, o campo da
Portuguesa na Ilha do Governador (onde ventava pra caramba!), Figueira de Melo,
Godofredo Cruz, Ítalo del Cima, Canto do Rio, Campos Sales, Conselheiro Galvão
em Madureira, berço do samba e motivo de algumas reclamações de dona Vera Lessa,
fiel companheira de longa data, já que o marido, além do Flamengo, gostava de
ouvir uma boa percussão.
Esse
Flamengo que o Lessa testemunhou era repleto de heróis, dentre os quais
Carlinhos Violino, Liminha, Dida, Dequinha, Jayme de Almeida e outros tantos
que jamais tiveram as mordomias dos jogadores atuais. E Hildebrando tinha
orgulho em enaltecer os que insistiam em levar as cores preto e vermelho Rio de
Janeiro adentro, embora as conquistas fossem árduas e mais espaçadas, diante da presença de outros grandes
times da Cidade de São Sebastião, onde até mesmo para o Bangu perderíamos o
Campeonato Carioca de 1966.
Mas
todo e qualquer sofrimento foi compensado com o Flamengo que se formaria após a
fatídica decisão em pênaltis contra o Vasco da Gama no Campeonato de 1977. Ali
nascia a geração vitoriosa da década de 80 onde, além de todos os títulos
conquistados, o Flamengo reverteria a vantagem estatística do antigo algoz,
devolvendo inclusive uma tão decantada derrota por 6x0 de 1972, quitada com
juros, pois foram duas vitórias contra o Botafogo (6x0 e 6x1), além de um jejum
de títulos do alvinegro que durou mais de 20 anos.
Lessa
era um leitor freqüente de meus Pitacos. Por muitas vezes puxou a minha orelha,
reclamando que eu economizava nas críticas a eventuais dirigentes ou jogadores
do nosso Flamengo. Pegava também no meu pé, diante de pensamentos divergentes
da maneira a qual percebíamos o mundo. Lembro inclusive de um último debate onde,
diante de uma pontual polêmica instaurada, eu pensei que o Lessa fosse apelar.
Que nada... Teve elevada presença de espírito e levou com o máximo bom humor.
Hoje,
diante da perda, e das diversas manifestações de carinho de seus amigos, rubro-negros ou não, descobri que ninguém é mais Flamengo do que o Lessa
era. Como homenagem ao grande Flamenguista, eu torço muito para que o time atual
de Jayme de Almeida se materialize naquela equipe ofensiva das visões e reivindicações
do nosso companheiro Hildebrando.
Hildebrando
Lessa Jesus teve em sua vida mais títulos que qualquer membro dos times do
arco-íris. Ele foi um vencedor, mesmo desejando possuir a humildade que
qualquer rubro-negro gostaria de ter, mas que o Flamengo insiste em não deixar.
Cordiais Saudações Rubro-Negras!
Ricardo Martins – Embaixada Fla BH
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