Diante
dos últimos fatos no Brasil (mensalão, manifestações, prisões, homofobia),
virou moda um monte de gente opinar sobre tudo. A internet se transformou numa
espécie de fórum permanente de falsos especialistas. Daí virou moda ser
contestador. Agora reclamam do calor, quando começar a chover, reclamarão das
chuvas, enfim, quando o inverno chegar, ficarão com saudades das altas
temperaturas do verão.
O
futebol não fica isento desses modismos, e acaba por reproduzir todas as
mazelas de nossa sociedade. Com um agravante, as opiniões derivam de resultados
pontuais, e ficam subordinadas ao passionalismo da ocasião. A Torcida do
Flamengo, até mesmo pelo seu tamanho, exemplifica bem essa reação cega pela
paixão.
Somos
47 milhões de técnicos, sem especializações, preparação, conhecimento de causa,
onde a grande maioria não tem o mínimo de habilidade com a pelota, mas se acham
bem mais capacitados que o Jayme de Almeida para escalar o time do Flamengo.
Para
piorar a coisa, todo ano repetimos o mantra de que “o Campeonato Carioca não
vale nada”. Todavia, basta rolar a bola nesta competição para os profetas do
apocalipse aparecerem com suas previsões catastróficas. Obviamente que não
queremos ver nosso time perder nem jogo treino, mas há que se dar a devida
importância para cada competição.
O
Campeonato Carioca tem seu charme, sua história, mantém acesa as chamas dos
times que, eventualmente caem para as divisões subalternas mas, a bem da
verdade, possui uma fórmula ultrapassada, deficitária, tudo agravado com a
marcação de horários estranhos para que consigamos ver todos os jogos.
Se
existe um lugar bom para avaliar atleta de futebol é justamente a competição
regional. Vejamos por exemplo o Cruzeiro de 2013. Marcelo Oliveira
definitivamente montou a equipe que ganhou o brasileiro com relativa facilidade
justamente no fraquíssimo Campeonato Mineiro. Até com certa lógica, seu time
chegou em primeiro na fase de classificação, perdendo um único jogo apenas na decisão para o rival Atlético, que já era
uma equipe pronta por Cuca.
Enfatizo
que os dois treinadores citados levaram suas equipes a conquistas relevantes
na temporada de 2013. Ambos tiveram tempo para trabalhar e conheciam seus jogadores.
Para entender a amplitude do trabalho dessa duas equipes, basta recordarmos em
que parte da tabela do Brasileirão ambas estavam em 2011...
O
problema é que nós meio que acostumamos a ver o Flamengo pós década de 80 a obter
conquistas na base do improviso. Ocorre que os tempos são outros. Nenhuma
equipe de futebol no Brasil conseguirá se estabelecer e se desenvolver sem uma
gestão que consiga equilibrar as receitas. Os tempos de contratar e não pagar,
por exemplo, ficaram para trás. E o Flamengo de Bandeira de Melo já deu mostras
disso.
Mas as
benesses não são enxergadas facilmente, principalmente em um País onde a
leitura e a visão crítica são substituídas pelas versões fictícias apresentadas
nas novelas, pelas retóricas dos políticos, e pelo oportunismo de algumas
âncoras do jornalismo midiático.
Jayme
de Almeida foi um achado para o Flamengo. Conhece intimamente os bastidores do Clube, possui excelente cultura de futebol, tanto do ponto de vista empírico
como teórico (sim, Jayme tem formação acadêmica especializada). Vivenciou a
transição de treinadores desde a última passagem de Wanderley Luxemburgo, e
assumiu o Flamengo sempre sabendo o que fazer.
Devido
ao inconsciente coletivo, Jayme tem ficado à deriva de forma muito parecida com
a qual foram expostos Carlinhos e Andrade no comando do time de futebol do
Flamengo, com uma diferença: Jayme demonstra que estava preparado para assumir
a responsabilidade de liderar o elenco do Flamengo. Jayme de Almeida, mesmo nos
momentos em que assumiu interinamente o Flamengo, jamais se comportou como
interino. A maior prova disso foi a escalação do menino Samir contra o
Criciúma, logo após a saída de Jorginho.
Uma
das premissas para ter um time competitivo é possuir uma escalação básica, com
peças no elenco capazes de manter rendimento semelhante quando chamados. Há que
se formar mais que um time. Necessitamos de um grupo focado nos mesmos
objetivos.
Nesta
lógica, Carlos Eduardo e Val, por exemplo, não podem se queixar de ausência de
chances para jogar. Val já foi dispensado e Cadu não deverá passar de junho. Mesmo
assim, até lá, o Flamengo não poderá deixar de quitar um dos maiores salários da
equipe.
Não
obstante a gulodice dos portugueses para com o Elias, e a completa falta de
noção de Luiz Antonio, jogadores como Everton, Léo, Mugni, Erazo, e até mesmo
Alecsandro chegaram com status de reforço. Especificamente Erazo foi
contratado pelo futebol que apresentou no Barcelona de Guaiaquil e na seleção
Equatoriana.
Por
absoluta falta do que dizer, e imediatamente após as duas exibições nada
satisfatórias de Erazo no Flamengo, logo surgiu o pior argumento para refutar a
performance do equatoriano, a de que nunca existiram jogadores relevantes no
Equador. Será que pensam que Alex Aguinaga, Agustin Delgado, Eduardo Hurtado,
Jefferson Monteiro, Édison Méndez, Edmundo Zura e Carlos Tenório são
colombianos?
Eu
cheguei a ser alvo de chacota, pois alegam que eu disse que Erazo era craque,
coisa que duvido, pois é um termo para o qual sou muito exigente em termos futebolísticos
para chamar alguém. Mas eu acredito que eu tenha dito exatamente o que penso:
Erazo é um bom jogador, mas não sei como se comportará com o Manto Sagrado.
Afinal, essa camisa pesou para muitos que se destacaram em outras equipes, pois,
como falou Miguezinho Gaúcho, “Flamengo é Flamengo!”.
Na
era Jayme de Almeida, além dele próprio, os já citados Val e Cadu foram vilões.
Após o Fla-Flu, Erazo foi crucificado por suas falhas, e logo rotulado como “fraco”.
Sua escalação foi duramente criticada pelos profetas do passado, que sequer prestaram
atenção nas palavras justificativas de nosso treinador no dia anterior, onde dizia que precisava ver o atleta em campo contra um adversário de expressão. Ninguém
queria perder para o Fluminese. Mas o jogo valia pouco diante da importância de nossa estreia na Libertadores.
Jayme
tinha esperanças de poder contar com o futebol daquele Erazo do Barcelona e do
Equador contra o Leon, mas o Fla-Flu demonstrou que isso seria temerário. Fomos então de Samir e
Wallace, comprovadamente uma boa zaga, mas que falharam ontem no segundo gol
dos mexicanos. Porém, a surpresa maior seria a escalação de Cáceres, cuja
temporada 2013 foi bastante aquém das expectativas. Mas na partida contra o Leon,
vimos em campo um paraguaio que definitivamente sabe como se comportar em uma
competição como a Libertadores.
No
mais, ninguém esperava que o pitbull Amaral fosse azedar o leite logo de cara. Para
a magnética, até o perdão de Jayme após a partida é inaceitável. Afinal, há que
se explicar a derrota de alguma forma. O que vi de gente antes da partida
achando que o Flamengo venceria fácil, só aumenta a revolta para com o nosso
volante que, dois meses atrás se consagrava como um dos principais responsáveis
pela conquista da Copa do Brasil.
Mas
Amaral isoladamente seria pouco para justificar o placar. Eis que surge um novo
e maior vilão: Mister Bean, um cara esquisito e literalmente um reles soprador
de apito. Mas, por favor, não há como reclamar das conhecidas arbitragens
latinas. Principalmente eu, que sou um rubro-negro forjado no histórico Real
Madrid 1x2 Flamengo (C.R. Flamengo 2 x 1 Real Madrid (ESP) Troféu Palma
de Mallorca 19/08/1978), quando
tivemos 3 jogadores e todo o banco de reservas expulsos – falarei
detalhadamente sobre esse jogo em outra ocasião.
O
Mister Bean só não será o vilão dos vilões por que, ao mesmo tempo em que
deixávamos três pontos no México, outro time brasileiro sofria uma derrota
irreparável. O Cruzeiro teve um prejuízo maior que a perda de pontos. O time e
sua torcida tiveram que aturar uma das coisas mais repugnantes do mundo:
demonstrações de racismo. Nem preciso entrar em detalhes, pois todos viram a
vergonha protagonizada por um bando de torcedores peruanos idiotas pela TV. Mas
quero aproveitar para chamar os nobres rubro-negros para uma reflexão. Aqui no
Brasil, não lá no Peru, mas aqui mesmo em nossa terra, uma pesquisa demonstrou
que 87% da população brasileira acredita que exista racismo em nosso País. O
assombroso foi a mesma pesquisa constatar que apenas 4% se consideram racistas.
Será
que pode existir racismo sem racistas? Ocorre que o racismo não é a opressão de
um homem sobre o outro, mas sim a construção de preconceitos, pensamentos e
atos racistas da sociedade sobre os homens. O racismo existe por que sobrevive
sob a nossa passividade diante do tema. Espero que essa lamentável ofensa ao
jogador Tinga nos sirva para dar um basta em nossa inconsciente conivência cotidiana,
que ainda permite atos e fatos tão desprezíveis.
Cordiais Saudações Rubro-Negras!
Ricardo Martins é membro da Embaixada Fla BH
Nenhum comentário:
Postar um comentário