Afinal, quem é mais qualificado para avaliar
quais atletas estejam aptos para envergarem o Manto Sagrado? Os “cornetas” do
Facebook? O passional da arquibancada? Os comentaristas esportivos profetas do
passado? Ou seria nosso treinador Jayme de Almeida?
Quando assumi consciência rubro-negra, o
Campeonato Brasileiro ainda era algo insipiente. A ditadura militar tinha no
futebol uma forma de desviar o foco dos graves problemas do País. Dentre as
cortinas de fumaça houve a conquista da Copa do Mundo de 70 e a criação de um
Torneio que suscitou um ditado: “Aonde a ARENA vai mal, mais um time no
Nacional”.
Diante daquele quadro não me recordo de ver times
competitivos do Flamengo nos campeonatos brasileiros de 1971 a 1978. Até aquele
momento as grandes conquistas rubro-negras eram regionais, e os confrontos com
os demais grandes clubes do planeta se materializavam em jogos amistosos, com
destaque para constantes excursões pela Europa e Arábia.
Pouco se fala hoje em dia, mas aquela geração
vitoriosa da década de 80 surgiu após uma reorganização político-financeira do
Clube de Regatas Flamengo. Não se montou o grupo vitorioso de 1980 a 1987
apenas na sorte em se aproveitar craques formados na base, mas sim principal e
fundamentalmente devido a seriedade do trabalho implantado pelo grupo
dirigente. Se, ao perder duas decisões consecutivas nas penalidades máximas
para o Vasco em 1977, a diretoria do Flamengo tivesse mandado todo mundo
embora, certamente permaneceríamos no mundo da fantasia, falando de glórias
nunca conquistadas, como certos torcedores de algumas agremiações se vangloriam
contraditoriamente, para poder mascarar os insucessos de seus times.
Aquela “mágica” gestão foi apagada após o título
brasileiro de 1992, embora o tempo ainda nos trouxesse um presente em 2009, já
que aquela conquista pouco, ou nada, teve que ver com exemplos de boa
administração. O Flamengo do novo século era claramente uma zona de guerra,
onde os preços pagos eram exagerados em relação aos resultados obtidos. Se não
fomos rebaixados, devemos agradecer a mística do Manto Sagrado e ao apoio da
Magnética.
Todavia, o Flamengo entrou claramente em uma nova
era. Embora torcedores de outras agremiações ainda continuem nos atacando por
problemas que até pouco eram fartamente noticiados, se o fazem agora é por
desconhecimento ou medo. Medo de que, em se tornando novamente organizado, o
Flamengo tenha tudo para se tornar um clube tão ou mais vencedor do que o da
década de 80.
Ocorre, porém, que a diretoria, por mais sábia
que seja não entra em campo. Para a nossa sorte, Jayme de Almeida viu o
despertar daquele grupo vencedor. Testemunhou nada menos do que os primeiros
passos de Zico no futebol profissional do Flamengo. E, entre primeiros passos e
a conquista do Campeonato Brasileiro de 1980 foram oito anos. Oito anos!!!
Nos tempos modernos oito anos são inaceitáveis
para o gigante representante de 40 milhões de apaixonados. Por isso que,
conquistar de cara um título importante logo no primeiro ano de uma gestão
comprometida com um Flamengo inabalável, sério, vencedor, pode ser considerada
como uma dádiva. Jayme de Almeida claramente ajudou na conquista desta façanha.
Por isso que, ao ver a entrevista de nosso treinador se queixar das recentes
vaias para Lucas Mugni e Luís Phelipe Muralha, de cara percebi que as perguntas
do primeiro parágrafo deste texto não podem suscitar dúvidas.
Talvez em função do gigantismo de nossa Torcida,
existam críticas para todos, e enfatizo o “todos”, os jogadores deste elenco,
salvo Samir, coincidentemente lançado na equipe pelo próprio Jayme de Almeida.
Samir tem sido o único que, mesmo quando falha parece ser blindado pela
Magnética, provavelmente pelo fato de ser um dos poucos jogadores oriundos da
base rubro-negra que demonstra maturidade suficiente para ser titular de
imediato.
Mas Felipe, Wallace, Léo Moura, André Santos,
Cáceres, Amaral, Muralha, Mugni, Alecsandro, Paulinho e o próprio Brocador, não
podem se dar ao luxo de errar. Erazo então, já foi taxado por muitos como
pereba. Mas eu diria que Erazo é o Wallace da vez, só que jogador de seleção.
Do Equador? Sim, mas o Emelec, que tanta dor de cabeça já nos proporcionou,
também é de lá...
Na prática, o Flamengo sempre foi um
quebra-cabeça. O que vivemos atualmente é uma montagem com peças certas para os
lugares certos. Para alguns que pediam Julio Cesar, ouso afirmar que o gol
definitivamente não é o problema deste grupo. Acredito que também estejamos bem
servidos de zagueiros, e considero Erazo uma dessas peças, com a qual poderemos
contar com ele e Chicão para as partidas da Taça Rio. Afinal, Chicão tem
maturidade suficiente para corrigir os problemas de posicionamento de Erazo.
Com a chegada do Léo, o outro Léo Moura, com os
salários em dia, vem nos brindando com boas atuações. Nosso problema está do
outro lado. André Santos é uma avenida, marcando muito mal. Ainda se salva
quando vai ao ataque, desde que não faça graça. André Santos, como bem diz meu
amigo Oswaldo Junior, acha que é o Zidane. Se ele jogar com a devida humildade,
poderá deixar ser considerado um elo muito fraco.
No meio de campo tempos dois problemas. A
ausência de um jogador moderno e inteligente como Elias, e a falta de um meia
armador clássico. Por incrível que possa parecer não possuir um “10” de origem
não nos deixa em situação desesperadora, afinal são poucas as equipes que o
possuem e, normalmente quando o tem, esse jogador costuma ser um a menos para
marcar. O Gabriel, outro tremendamente criticado por todos nós (e eu o
critiquei bastante em 2013), contribui bastante, tanto na armação, quanto na
marcação. Gabriel e Everton dão qualidade técnica e tática ao Flamengo 2014.
Não obstante tudo que abordei até agora, quero
ressaltar que, mesmo estando tudo certo, salários em dia, dívidas equalizadas,
consistência do futebol apresentado, não há garantias para que conquistemos algo
relevante neste ano, principalmente em uma competição tão imprevisível como a
Taça Libertadores da América, onde uma simples partida pode nos tirar da
disputa.
Temos que dar os devidos pesos para cada
competição. O Carioca vale muito pela rivalidade regional, pelo ajuste do
elenco e financeiramente tem que ser auto-sustentável, se possível. A Taça
Libertadores vale muito pelo aspecto financeiro. Ela não vale mais do que um
Campeonato Brasileiro, por exemplo. Um Campeonato Brasileiro é muito mais
difícil de ser conquistado, não há nem como comparar. Mas a Liberta detém seus
atrativos.
Gosto muito da Copa do Brasil. Acho legal ver o
Mengão lotando estádios afastados do Rio de Janeiro. Mas este tipo de
competição, se por um lado privilegia o aspecto da técnica aliada a raça, pode
também representar uma desclassificação precoce, ou uma frustração no jogo
final. Como a Libertadores tornou-se meta (enfatizo, por sua importância
financeira), acredita-se ser mais fácil buscar uma vaga via Campeonato
Brasileiro.
E, no Brasileirão, as equipes mais regulares têm
lugar praticamente garantido nas primeiras posições. E mais, com um Flamengo
competitivo, as receitas oriundas das bilheterias podem ser tão libertadoras
quanto as provenientes do Programa de Sócio Torcedor.
Um Flamengo forte e organizado pode permitir a
vinda de um grande craque, concomitantemente que pode tornar a subida dos “Pratas
da Casa” menos árdua. Um time unido, derivado de um elenco de qualidade pode nos
proporcionar que um jogador como Hernane se torne um goleador e, quem sabe,
ídolo registrado na história rubro-negra.
Da minha parte, fica a dica: façamos o que nos
compete, vamos apoiar esse grupo, que já demonstrou ser capaz de responder bem
em campo aos gritos da arquibancada. Na hora de chamar a atenção e fazer as
devidas alterações, Jayme já nos demonstrou que sabe muito bem o que faz.
Se for para sonhar, que seja com o camisa 10 da
Seleção Argentina. Mas aí a coisa ficará fácil demais, e nem parecerá Flamengo.
Cordiais
Saudações Rubro-Negras!
Ricardo Martins – Embaixada Fla BH
Nenhum comentário:
Postar um comentário