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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Zico

Zico é o maior artilheiro da história do Flamengo com 508 gols em 731 jogos, e ídolo de uma nação com mais de 35 milhões de torcedores espalhados pelo país. Deixou sua marca 333 vezes no Maracanã, um recorde que ainda não foi quebrado por nenhum outro jogador. Conquistou a Itália nas duas temporadas em que jogou pela Udinese, deixando um tempero de feijoada na tradicional ‘macarronada’. No Japão, tem a admiração de um povo que não se cansa de homenageá-lo pelo que ele fez no futebol da Terra do Sol Nascente. Os japoneses transformaram sua despedida definitiva dos gramados em um carnaval (1994), construíram duas estátuas, e o imperador entregou a ele uma comenda pelos serviços prestados ao país. A prova maior de confiança, no entanto, aconteceu no ano passado, quando lhe deram a árdua missão de assumir o comando da seleção nacional que busca a vaga na Copa de 2006. Dos tempos de jogador, vale ainda destacar a reverência dos países por onde Zico apenas passou, como a França e a Espanha.
Não é possível precisar o momento em que o homem vira ídolo quando isso ocorre naturalmente, sem a influência de recursos para a construção de uma imagem. Zico é mesmo um exemplo à moda antiga. E tudo partiu do aconchegante Bairro de Quintino, por uma conseqüência de dom, amor ao futebol, respeito, disciplina e muita determinação. Isso para citar alguns dos ingredientes principais da mistura. Nada artificial ou construído.
A relação com a bola nos tempos de menino, por exemplo, já era afetiva. Zico dormia com ela ao lado do travesseiro, tratava com muito carinho. Podia ser de meia, no jogo de botão, ou no totó, o importante era que as atenções estivessem concentradas nela: a bola. E ela nunca o deixaria em situação difícil. Aprendeu a ficar sempre perto dos seus pés, a obedecê-lo para encontrar o caminho do gol.
As primeiras lembranças de Zico no Maracanã são do dia 23 de abril de 1961, quando ele tinha apenas 8 anos. Talvez nesse dia tenha começado fisicamente o caso de amor do futuro craque com o Templo do Futebol. Levado pelo pai a um jogo em que o Flamengo acabou conquistando o Torneio Rio-São Paulo, o pequeno Arthur pôde acompanhar o talento de um alagoano chamado Edvaldo Alves de Santa Rosa, o Dida. O camisa 10 do Flamengo marcou os dois gols da vitória e consolidou-se como ídolo no coração e na memória do Galinho. Encantou o menino. Mas há quem jure de pés juntos que essa história começou bem antes. ‘Di-Da’ teria sido uma das primeiras palavras que Zico pronunciou, aos dois anos de idade.
Quatro anos mais tarde, Zico pisaria pela primeira vez no gramado do estádio que o consagrou, levado pelo vizinho Ivo, que trabalhava na administração do estádio. Nessa época o Galinho já entortava zagueiros e distribuía passes precisos no time de novos do Juventude, nos campos de soçaite, nas quadras de futsal ou mesmo nas peladas jogadas na rua. Mas, nos sonhos, o Templo do Futebol aparecia como o quintal de sua casa. Premonição.

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