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sábado, 8 de agosto de 2009

Um gol antológico do Flamengo

Ser Flamengo é ter a certeza de sentir o amor no seu sentido mais genuíno. Amamos o Flamengo e os outros são sempre, e somente, “os outros”.

Já vivi diversos momentos inesquecíveis como Flamengo. Como esquecer do gol com a cara na lama de Almir contra o Bangu em 1966? Do gol do Fio contra o Benfica, que inspirou a música do então Jorge Ben? E a estreia de Doval na partida em que o Urubu marcou sua entrada em cena como emblema do time e torcida?

O que dizer do gol do Rondinelli na final de 1978? Do gol do Nunes na final contra o Atlético no Brasileiro de 1980? E os Dele contra o Cobreloa na final da Libertadores de 1981? E os de Nunes e Adílio contra o Liverpool na conquista do Mundial Interclubes, comandados por Ele?

Daí até 1992, quando nos sagramos pentacampeões brasileiros, passando pelos 6 a 0 contra o Botafogo (depois 6 a 1), pelas conquistas dos Brasileiros de 1982, 1983 e 1987 e os estaduais de 1986 e 1991, foram tantas emoções, como diria o outro Rei, que não haveria espaço para elencá-las. Ser Flamengo é maravilhoso, inexplicável.
De 1992 a 2001 o Flamengo teve momentos marcantes, como os diversos gols de Romário e o gol de Rodrigo Mendes na final contra o Vasco em 1999, que iniciou a arrancada para o quarto tri. Mas nenhum se compara ao do Pet na final de 2001.

Havíamos perdido a primeira partida da final por 2x1, o que dava ao adversário a vantagem de jogar pelo empate e por uma derrota simples. Ao Flamengo só restava a vitória por dois gols de diferença. A Gávea viveu uma semana intensa e muitos dirigentes queriam a saída do Pet. Diziam que ele era “criador de casos” e que não “jogava essa bola toda”. Como fazia parte do Conselho de Administração, argumentei com alguns conselheiros que ele iria nos dar o tricampeonato, que era o mais talentoso do time e era reverente a Ele. Por diversas vezes Pet disse que seu ídolo era Zico.

Não fui ao Maracanã. Decidi ver sozinho pela televisão. Fiz todas as “mandingas necessárias”, me concentrei em cada lance, me transportei para o campo e suei como se tivesse jogado com os heróis daquela conquista. Como somos diferentes quantitativa e qualitativamente, as imagens da televisão mostravam o estádio tomado por 2/3 de rubro-negros. O Flamengo faz o primeiro gol, de pênalti, convertido por Edílson. Mas o adversário empata em seguida e fomos para o vestiário precisando de dois gols para o consagrador tricampeonato.

Aos oito minutos do segundo tempo, Edílson desempata de cabeça em jogada de Pet. A partir daí até os 43 minutos a partida foi tensa e dramática. O Flamengo foi todo ao ataque. O adversário, recuado, ameaçava nos contra-ataques. Julio César, nosso goleiro, defendeu bolas com os pés, mãos, corpo, tudo. Era uma muralha no gol. A torcida rubro-negra incentiva o time. A do adversário parecia pressentir a tragédia (para eles, claro) e permanecia muda. Diante da televisão, eu já estava todo molhado, contorcido, jogando intensamente com o time. Até que surgiu a falta, a meia distância, a favor do Flamengo. Desde 1990, Ele já estava aposentado pelo Flamengo.

Quando vi Pet ajeitando a bola pensei Nele. Camisa 10 igual a Ele. A bola fez uma curva e entrou no único lugar em que o goleiro, que ainda toca nela com os dedos, não podia defender. Pet sai correndo em direção à torcida e cai de costas no chão. Os jogadores correm para abraçá-lo, Zagallo beija Santo Antonio, a Maior Torcida está enlouquecida, o narrador grita o gol, e eu entrei em um choro convulsivo.

Dali até o final da partida, enquanto durava meu choro incontrolável de felicidade, o filme de momentos inesquecíveis me veio à mente. Neste filme Ele era o grande protagonista. Meu filho caçula, na época com quatro anos, hoje apaixonado pelo Flamengo como o pai, entrou no quarto. Eu não o vi entrando. Não sabia que estava ali. Quando percebi sua presença e vi a cara de espanto por ver o pai chorar, eu lhe disse: “Filho, papai está chorando de alegria. Um dia você vai entender”. Ele já entende, assiste aos jogos comigo e adora escutar minhas histórias sobre o Flamengo.

Dias depois, encontrei, por acaso, Pet no estacionamento do clube. Ele estava falando ao telefone. Esperei que terminasse, me aproximei e lhe agradeci, dizendo que aquele gol tinha sido o momento mais emocionante de minha vida como rubro-negro desde o penta brasileiro em 1992.
Naquela partida memorável, destaque também para o goleiro Julio César. Se o gol do Pet é o que ficou mais marcado na memória, não podemos nos esquecer da muralha que estava no nosso gol.

Ronaldo Helal

2 comentários:

Dani disse...

Delicia de história! Emoção pura!

Marcus Vinicius disse...

Os 3 gols mais emocionantes que eu vi foram o do Rondinelli no Vasco 1978, o do Nunes no Atlético Mineiro 1980 e o do Pet no Vasco 2001, todos porque deram o título e foram nos minutos finais