Cláudio Pecego de
Moraes Coutinho nasceu em 5/1/1939 em Dom Pedrito (RS), veio para o Rio aos
quatro anos de idade e foi um dos maiores técnicos da história do Flamengo,
dirigindo o time rubro-negro entre 1977 e 1980. Coutinho também teve passagens
importantes pela Seleção Brasileira exercendo várias funções.
Cláudio Coutinho era apaixonado por esportes. Foi tricampeão
estadual de vôlei pelo Flamengo (1959-1960-1961). Coutinho era militar e se
formou na Escola de Educação Física do Exército.
Foi preparador físico da Seleção na Copa de 1966 e auxiliar na
preparação física na Copa de 1970. Em 1969, Coutinho estagiou na Nasa e teve
contato com Kenneth Cooper conhecendo o teste de Cooper. Coutinho foi o
responsável pela implementação do modelo Cooper e desse conceito no Brasil , o
que contribuiu para que a Seleção Tricampeã do Mundo, que contava com o talento
de Pelé, Gerson, Rivelino, Carlos Alberto Torres, Jairzinho, Tostão e Clodoaldo
,voasse em campo encantando multidões com um futebol fantástico no Mundial do
México .
Coutinho foi também Coordenador Técnico da Seleção na Copa de
1974, competição na qual o Brasil comandado por Zagallo perdeu para a Holanda,
seleção que encantou o mundo com várias inovações táticas como a polivalência (ideia
segundo a qual jogadores podem desempenhar mais de uma função em campo).
Coutinho foi ainda treinador da Seleção Olímpica de 1976, que
contou com jogadores rubro-negros como Júnior e Uri Geller e ficou em quarto
lugar na competição; pois perdeu para a Polônia por 2 a 0 e para a antiga União
Soviética pelo mesmo placar.
Influenciado pelo time holandês vice-campeão mundial em 1974 e
1978, Coutinho empregou várias inovações táticas no Flamengo e na Seleção de
1978. O livro 1981 de Mauro Beting e
André Rocha trata com minúcia dessas táticas de Cláudio Coutinho, como o overlapping, ou ultrapassagem, jogada pela lateral do campo, em que um companheiro de time faz a inversão do jogo,
contando também com a colaboração de um ponta que fecha para o
meio — abrindo espaço para um lateral ou meio-campo — (como explica Júnior na p. 30 do livro) ,o ponto futuro (“o lugar
onde o jogador deveria estar chegar no
mesmo instante em que a bola é lançada pelo companheiro” (p. 30 do livro 1981) e a tática da “teia de aranha ”na qual o time
jogava em bloco, “cercando o adversário pelos lados do campo e evitando a
inversão de jogo” , valorizando a pose de bola, como explica Zico na p. 29 do
mesmo livro. Zico também enfatiza que Coutinho defendia a ideia de era melhor
partir para cima do adversário, marcando gols e lhe dando um nocaute (p. 30 da
obra de Rocha e Beting). Outro ponto importante, como ressalta Júnior em sua autobiografia Minha paixão pelo futebol (p. 41), é que Coutinho fazia questão que “os jogadores exercitassem os
fundamentos do futebol: passes, chutes, cabeçadas, domínio de bola criatividade”
em qualquer treino (táctico, técnico ou coletivo).
O trabalho de Coutinho como técnico da Seleção na Copa
de 1978 foi criticado por essas inovações e por ele não ter convocado Falcão,
considerado o melhor jogador do pais por seu desempenho no Inter, para essa competição. Além disso, o próprio Coutinho se arrependeu
de não levar Júnior para a Copa
realizada na Argentina na qual a Seleção contava com nomes como Zico, Reinaldo,
Rivelino, Cerezo e Dinamite. Na primeira
fase, o Brasil empatou com a Suécia em 1 a 1 (com direito a um gol de cabeça de
Zico marcado no momento do apito final mal anulado pelo juiz) e com a Espanha
em 0 a 0 e venceu a Áustria por 1 a 0. Na semifinal, o Brasil venceu o Peru por
3 a 0, empatou com a Argentina em 0 a 0 e derrotou a Polônia por 3 a 1, mas foi
desclassificado porque a Argentina venceu o Peru por 6 a 0 em jogo suspeito,
classificando-se no saldo de gols. O Brasil ficou em terceiro lugar ao vencer a
Itália por 2 a 1 . Os anfitriões derrotaram a Holanda na final por 3 a 1 e
foram os campeões da competição.
Mas no Flamengo essas inovações táticas empregadas por
Coutinho ao ser contatado como treinador do clube em 1977 tiveram enorme sucesso
e contribuíram decisivamente para a formação do fantástico time rubro negro no fim dos anos 70 e início dos 80
e para a conquista de vários títulos como o Tricampeonato carioca de 1978-1979-1979
Especial, os Torneios Ramon de Carranza (1979 e 1980) e o Brasileiro de 1980.
A conquista do Campeonato Carioca de 1978 foi marcante para
jogadores como Zico, Júnior, Raul, Adílio, Rondinelli e Uri Geller. Na final
contra o Vasco, Zico bateu o escanteio com perfeição e Rondinelli cabeceou com
força para a rede cruzmaltina aos 42 minutos do segundo tempo. Começava o
período mais glorioso da história do Flamengo.
Houve dois campeonatos cariocas em 1979 e, em fase espetacular, o
Mengão venceu ambas as competições. Na primeira, o Flamengo empatou com o
Botafogo em 2 a 2 na final do Campeonato Especial com dois golaços de Zico. Na
segunda, mesmo desfalcado do Galinho de Quintino, que marcou 34 gols em 25
partidas naquele ano apesar de não ter jogado o terceiro turno, o Flamengo
venceu o Vasco por 3 a 2 , dois gols de Tita e um contra de Ivan, e empatou com
o Botafogo em 0 a 0, sendo tricampeão carioca com uma rodada de antecedência.
Entre 1978 e 1979, o Flamengo ficou 52 jogos invicto.
Além disso, em julho do mesmo ano, o Flamengo venceu o Troféu
Ramon de Carranza. A equipe rubro-negra venceu o Barcelona por 2 a 1 com gols
de Zico e Uri Geller. Na decisão da competição, o Flamengo venceu o Ujpest da
Hungria com dois gols de Zico, sagrando-se campeão do torneio.
No ano seguinte veio a consagração nacional do Flamengo e de
Coutinho. O Mengão fez excelente campanha no Brasileiro de 1980 e decidiu o
título com o Atlético-MG. No primeiro jogo no Mineirão, desfalcado de Zico, o
Rubro-Negro carioca perdeu por 1 a 0 (gol de Reinaldo). O segundo e decisivo
jogo realizado no Maracanã foi eletrizante. Nunes abriu o placar para o
Flamengo, mas Reinaldo empatou para o Atlético logo em seguida. Zico marcou um
golaço e fez 2 a 1 para o Clube de maior torcida do Brasil. No segundo tempo,
mesmo machucado, Reinaldo tornou a empatar o jogo. Em lance épico no fim da
partida, Nunes driblou Silvestre e chutou sem defesa para o goleiro João Leite,
garantindo o título brasileiro e a vaga na Libertadores de 1981.
. Em 1980, o Flamengo conquistou ainda a Taça Guanabara, a Taça
Cidade de Santander (vencendo o Real Sociedad por 2 a 0 com gols de Adílio e
Zico e o Spartak por 2 a 1 com dois gols de Zico) e o bicampeonato do Troféu
Ramon de Carranza ao derrotar o Bétis por 2 a 1 com dois gols de Zico. Essa foi
a última conquista de Coutinho como técnico rubro-negro, já que o treinador
deixou o cargo no fim do mesmo ano por estar magoado com a diretoria rubro-negra.
Em 1981, Coutinho treinou o Los
Angeles Astecs e, infelizmente, ao voltar ao Rio em novembro do mesmo ano,
morreu afogado praticando a pesca submarina. Duas semanas antes da morte de
Coutinho, o Flamengo conquistou com muita garra, suor e sangue a Libertadores
da América ao vencer o Cobreloa por 2 a 0 com dois gols de Zico.
Mas as conquistas não pararam por aí. Vencedor
do primeiro e do terceiro turnos do Campeonato Estadual de 1981, o Flamengo
enfrentou o ganhador do segundo turno (Vasco) numa série de três jogos. Abalado
pela perda do ex-técnico Cláudio Coutinho, o Fla perdeu as duas primeiras
partidas, mas venceu o terceiro jogo por 2 a 1. Adílio abriu o placar ao marcar de cabeça. Júnior disputou a bola com o goleiro adversário e Nunes marcou o segundo
gol rubro-negro dando um chutaço de fora da área. Ticão descontou para o
adversário.
Na semana seguinte, no dia 13 de
dezembro de 1981, o Mengão venceu o Liverpool por 3 a 0 (dois gols de Nunes e um de Adílio), sagrando-se campeão do mundo em Tóquio. Zico foi eleito o melhor jogador da
partida, pois com sua extraordinária visão de jogo participou da construção dos
três gols. O eterno camisa 10 da Gávea fez um lançamento milimétrico e
absolutamente genial para Nunes, que marcou o primeiro gol. Zicão cobrou a
falta que originou o gol de Adílio
e deu outro passe preciso para Nunes chutar cruzado e marcar o terceiro aos 41
minutos do primeiro tempo.
Sob o comando de Paulo César Carpegiani, as
conquistas do Flamengo em 1981 foram uma homenagem a Coutinho, já que o esquema
ofensivo e as inovações táticas desse grande treinador — aliadas ao talento de
Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Junior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Nunes e Lico
— foram fundamentais para levar o
Flamengo ao topo do mundo, colorindo-o de vermelho e preto.
Fontes:
Junior.
Minha paixão pelo futebol. Rio de
Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2010.
Rocha,
André e Beting, Mauro. 1981: Como um
craque idolatrado, um time fantástico e uma torcida inigualável fizeram o
Flamengo ganhar tantos títulos e conquistar o mundo em um só ano. Rio de
Janeiro: Maquinária, 2011.
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